Olá caro leitor do outro lado da telinha! Gostaria de lançar neste espaço uma das minhas viagens no Vale da Mirabolância. Algo que será uma espécie de quebra da quarta parede nesta coluna.
Eu dei o nome para este espaço de P.I.S.T.A. “O que é isso, Luís, ‘pelamordedeus’! Algo a ver com estar na pista para negócio?” Não, não, caro leitor.
P.I.S.T.A. é o acrônimo de Prosa Inventiva (pra) Sortá (os) Trem Acumulado (assim mesmo, bem no “mineirês”).
Estou lançando aqui um cantinho para que possamos trocar as roupas pesadas por peças mais confortáveis, formatar nosso hardware mental, formatar nossas crenças e rodar um sistema com mais leveza, velocidade e liberdade.
Vamos viajar nesta pista?
Hoje na estreia do espaço na coluna CrônicaBox, quero prosear com o caro leitor o que aconteceu ontem, terça-feira!
Dia vinte e cinco de maio de dois mil e vinte um. Leio uma crônica de Veríssimo que contém a frase "as datas deveriam nos fixar no tempo como as coordenadas geográficas nos fixam no espaço, mas a analogia não funciona". A crônica se chama "A primeira terça". Curioso é que este dia vinte e cinco de maio também é uma terça. Será coincidência? Existem coincidências? "Não existem coincidências", algo em mim sussurrou. Talvez um espírito quântico invocando a sincronicidade. Então qual o motivo?
Olhei para frente após ler as primeiras frases da crônica que acabei de mencionar. Vi no céu uma luz laranja, um colorido lindo no céu. Desloquei um pouco para a direita no banco de praça onde eu estava sentado para enxergar melhor, pois a igreja matriz estava tampando parte do espetáculo.
Uau! Um belo pôr do sol. Ao lado da igreja vi uma casa de estilo colonial. Deve ser datada do século XVIII. Olhei para trás, idem. Olhei para a matriz e tive a mesma impressão. Entorpecido por aquele momento, pensei: gostaria de escrever algo que juntasse isso tudo.
O tempo, o colorido alaranjado no céu, a casa do século XVIII, ser uma terça-feira e outro Luís Fernando escrevendo tudo isso em Cachoeira do Campo, um distrito de Ouro Preto, sentado em um banco de praça esperando pela esposa que estava em uma consulta com terapeuta.
Quantas pessoas desde o século XVIII já viram este pôr do sol exatamente naquele lugar? Devo tirar uma foto?
Pensei sobre o tempo. Assisti a um vídeo na segunda-feira (ontem para o eu de vinte e cinco de maio de dois mil e vinte um) de Pedro Loos, o cara que quer popularizar a Física com vídeos no YouTube. O vídeo está no canal dele e se chama “Por que você não lembra do futuro?”. Neste vídeo, o Pedro fala sobre a tentativa de definir por meio dos conceitos da Física a passagem do tempo.
Envolve entropia e teoria do Big Bang. E canecas quebradas.
Entropia é aquela grandeza física que mede o grau de organização do sistema. O lance de que tudo no universo tende ao caos, lembram-se? O Pedro explicou que o passado tem baixa entropia e o futuro mais entropia.
Imagine que você entrou na cozinha e viu cacos quebrados de uma caneca no chão. Você consegue imaginar como era a forma daquela caneca antes de quebrar, certo?
Mas não consegue prever com precisão como ficará a forma da caneca quando se espatifar no chão. Há muitas formas de caneca quebrada, mas uma forma bem conhecida de caneca inteira.
Ou seja, mais formas da caneca quebrada, aumenta a probabilidade de ocorrer maior número de eventos (o futuro, a entropia maior). Em contrapartida, temos menos formas de caneca inteira, o que reduz o número de eventos, então é mais fácil de acertar (o passado, a entropia menor). Como a tendência do universo é o caos, a seta do tempo aponta do passado para o futuro.
Enfim, o Pedro explica melhor.
Depois desse devaneio me veio novamente a ideia que eu deveria tirar a foto.
O sol se pôs e perdi o momento.
Realmente, o tempo é implacável. As datas não fixam o tempo como deveriam. Não funciona, como já havia concluído Luis Fernando Veríssimo.
A entropia aumentou muito e não posso prever o pôr do sol do dia vinte e seis ocorrendo neste mesmo horário. Inclusive é provável que eu não esteja neste banco de praça no dia vinte e seis de maio de dois mil e vinte e um. Provavelmente, em nenhum horário. E a coincidência (ou a sincronicidade, como insiste o espírito quântico) de ser terça-feira também já teria ido para o espaço. E a coincidência/sincronicidade de ler justamente a crônica "Primeira terça" do Veríssimo pela primeira vez.
Comecei a escrever estas linhas logo após toda essa reflexão. Cheguei à conclusão de que escrever histórias é uma forma de organizar um possível futuro. Pinturas, esculturas, obras de arte também. Então, uma ode à arquitetura do século XVIII! Ao passado e à baixa entropia! Ao pôr do Sol eterno enquanto houver presente! E ao Pedro Loos que nos explica a Física!
Luís Fernando Gurgel e Souza, sobre histórias do cotidiano, fábulas, crônicas futebolísticas e emoções de cada um. luisfgurgel11@gmail.com
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