Já era comentado na vizinhança. O casal aparentemente não estava se dando bem.
Às vezes era possível ouvir. Estavam proferindo impropérios um contra o outro. Mas não eram palavras de baixo calão. Eram insinuações sutis, como uma ofensa velada.
Os vizinhos mais próximos podiam confirmar.
- Você tem um popô peludo! - dizia ele.
- Você é um marido muito canino! - dizia ela.
"Ele insinua que a mulher não se depila, chamando-a de peluda!", comentavam uns.
"Ela o chama de cachorro, eu ouvi! Não deve ser flor que se cheire!", comentavam outros.
"Pobre casal, tão jovem e já brigando assim?", decretavam todos.
O que omitiam ou não ouviam por se ocuparem com os pensamentos, é que os impropérios eram acompanhados de risadas. Talvez mais abafadas por causa de um abraço apertado e um xamego no pescoço.
Mal sabiam que a expressão "popô peludo" era um dos elogios mais bem ranqueados na lista de elogios do casal. Principalmente para ela que trouxe esse dialeto para a realidade dele.
E também não compreendiam que a expressão "marido canino" possui nível de alta apreciação na escala de classificação de maridos.
Afinal, a referência do ser de mais alto gabarito neste planeta é o cachorro. Seres amorosos, leais, companheiros, de focinhos gelados e popôs peludos. Sim, popôs são os seus rabos balançantes. A expressão da alegria. Talvez a cauda de um cachorro guarde a ananda, termo em sânscrito que significa a alegria do Ser e muito usado no hinduísmo.
Então, indicar que uma pessoa tem popô peludo é um elogio além da conta.
Por isso, desejo que você possa ter um popô bem peludo! E ao elogiar alguém, diga que ele ou ela tem um popô peludo. Eles vão gostar.
Depois que lerem este texto, claro.
Luís Fernando Gurgel e Souza, sobre histórias do cotidiano, fábulas, crônicas futebolísticas e emoções de cada um. luisfgurgel11@gmail.com
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