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Geral Casalzinho Bacana

À lá Rodrigo Hilbert

Peripécias do Casalzinho Bacana

25/08/2021 11h57
Por: Redação Fonte: Luís Fernando Gurgel e Souza
À lá Rodrigo Hilbert

Ele se lembra da severidade quase profética da irmã mais velha:

 

- Não vá perder essa mulher!

 

A irmã sabia. Ele também. Era ela.

 

Em uma manhã de inverno, ao abrir uma caixa de leite, ele percebeu que o lacre tinha o formato de um anel e a pediu pela primeira vez em casamento. Ela aceitou.

 

A partir deste dia, a cada nova caixa de leite aberta, um novo anel aparecia com uma nova proposta e um novo e divertido “sim”.

 

Era tempo de substituir o “anel de leite”.

 

Comprou os anéis metálicos na joalheria escolhida após uma pesquisa criteriosa de mercado. Que belas peças reluzentes! Parecia que haviam saído do filme “O Senhor dos Anéis”. A dela tinha uma pedrinha incrustada. Foi possível ver o seu próprio sorriso refletido naquela superfície dourada de 0,4 centímetro de espessura. 

 

Ele dividiu a compra em três vezes, uma entrada mais duas prestações. Foi o máximo que o seu poder de negociação permitiu. Tudo bem. O ajuste seria gratuito, se fosse necessário. Era bem provável que fosse, pois calculou as medidas do anel dela com base no seu dedo mindinho. Em um teste, tentou colocar vários anéis que ela já possuía e eles só couberam naquele dedo. Apesar do planejamento, essas coisas variam. Portanto, um ajuste gratuito viria a calhar.

 

Tudo pronto. Jantar marcado no restaurante que toca piano Jazz. Mesa reservada com a ajuda do garçom gente boa. Música combinada com a cantora (conseguiu o contato graças ao garçom gente boa; depois de quatro tentativas, o contato com a artista foi feito). 

 

O dia havia chegado. Uma caixinha com anel de leite foi colocada na cama dela com uma mensagem de aniversário (sim, era o aniversário dela). A caixinha de anéis vermelho estava no bolso da calça (“Esse trem está fazendo muito volume no bolso, vai ficar na cara”, pensou ele). 

 

O suor descia em bicas. Parecia uma tampa de marmita. E não era por causa do dia de verão.

 

- Aonde você vai me levar, amor?

 

- Segredo. 

 

- Ah, mas você sabe que sou curiosa! Vai fazer isso comigo no dia do meu aniversário?

 

- Na hora você vai ver!

 

Chegando ao restaurante, o sorriso dela estava aberto. O garçom gente boa aguardava na entrada. Dali era possível ver o piano e a cantora.

 

- Boa noite, tenho uma reserva.

 

- Por aqui, senhor.

 

O garçom foi conduzindo o casal mais para o interior do restaurante.

 

- Adorei o lugar! – exclamou ela.

 

- Arrasei na escolha!

 

- Arrasou mesmo. Que mesa bonita aquela no canto. Parece reservada para algo especial.

 

- Sim, parece.

 

- Estamos indo para lá?

 

- Sim, estamos.

 

- Nossa! Olha que romance! Vinho e luz de velas!

 

- Vamos nos sentar.

 

Pedido do jantar feito com o garçom gente boa. Filé do Chef. Vinho chileno nas taças. Ele estava se desidratando por causa da quantidade de água perdida pelo suor. Já havia passado aquela cena mentalmente diversas vezes. Combinara o sinal com a cantora. Com uma desculpa de ir ao banheiro, iria passar na frente dela e se identificar. Quando voltasse, era a deixa para a cantora tocar a música favorita dela.

 

La vie en rose. 

 

Demorou um pouco para tomar coragem. Depois da primeira taça de vinho, ele colocou o plano em ação. 

 

Voltou à mesa. A música começou a tocar. Aguardou dez segundos. Olhou fixamente para ela. 

 

Ela estava entretida com uma bruschetta pomodoro. Ainda não percebera. Ela adora comer. 

 

Até a cantora entoar o verso “Je vois la vie en rose”.

 

- Olha, está tocando La vie en rose.

 

- Sim. Muitas coisas na vida podem ser tratadas como coincidência. Mas essa não é uma delas. Como também não foi coincidência te conhecer.

 

- Ai meu Deus! Por que você está se levantando? Por que você está…

 

- Quer casar comigo?

 

- Aaaaaaaaaa… quero!

 

Houve suspiros ao redor. Não perceberam. 

 

Dentro da caixinha vermelha, um bilhetinho: “Hoje eu te dei o último anel de leite”.

 

Já passava da meia noite quando ela entrou no quarto dos pais. Acendeu a luz. Os pais, sonolentos, levaram um susto.

 

- Vou me casar! - ela mostrava a mão com a palma virada para si e com os dedos abertos.

 

- Oh, que bom! - respondeu o pai. 

 

E voltou a dormir.

 

Luís Fernando Gurgel e Souza, sobre histórias do cotidiano, fábulas, crônicas futebolísticas e emoções de cada um.  luisfgurgel11@gmail.com  

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Sobre CrônicaBox
Penso em publicar na coluna as histórias de humor sobre as aventuras do detetive Ted Rocky, as histórias da Abelha Rita Bee com suas pílulas de sabedoria filosófica. As inusitadas histórias de um torcedor de futebol. O cotidiano de um jovem casal recém-casado. Crônicas espirituosas e espiritualizadas. Uma caixinha sortida de crônicas.
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