No mesmo dia em que cientistas ouvidos pela CPI da Covid reforçaram a inexistência de tratamento precoce contra a doença, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a defender o uso da cloroquina. Durante cerimônia de entrega de casas populares pelo programa Casa Verde Amarela a famílias de baixa renda de São Mateus (ES), o presidente, que não usava máscara, disse que sempre esteve no meio do povo, mesmo sabendo que havia um vírus mortal nas ruas.
"Eu poderia ter ficado no Palácio do Alvorada, mas não fiz isso. Acabei acometido pelo vírus e tomei a hidroxicloroquina", disse Bolsonaro, aplaudido pela plateia. "Talvez eu tenha sido o único chefe de Estado que procurou remédio pra esse mal. Ouvi pessoas que tinham conhecimento sobre o caso, mas quando eu falei que aquilo poderia ser bom, a oposicao abriu uma guerra contra a gente", afirmou.
O presidente afirmou que nunca jogou "fora das quatro linhas da Constituição". "De minha parte, nunca fiz nada que ferisse o direito das pessoas de ir e vir, o direito ao trabalho e a inviolabilidade do lar", afirmou. "Não fechei comércios, não tirei o pão de ninguém, não decretei toque de recolher. Tenho as Forças Armadas do meu lado e elas jamais irão às ruas para obrigar as pessoas a ficarem em casa."
Bolsonaro avisou aos apoiadores que, neste sábado, participará de um passeio de moto em São Paulo. "É a liberdade em duas rodas", disse. O presidente disse que estar ao lado do povo transmite energia e segurança. "Um homem sozinho não faz nada, mas juntos podemos fazer tudo", finalizou.
CPI da Covid
Especialistas ouvidos pela CPI da Covid nesta sexta-feira (11) criticaram a declaração de Bolsonaro de que emitirá um parecer para desobrigar o uso de máscara por aqueles que foram vacinados ou já contaminados pela covid-19. Pesquisador da Fiocruz e ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Cláudio Maierovitch afirmou que, enquanto não tivermos a maioria da população vacinada, é imprescindível usar máscara para evitar contaminação.
A microbiologista e pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo), Natalia Pasternak também criticou a fala de Bolsonaro. “A recomendação do uso de máscara é essencial enquanto a gente continua observando um número de casos e morte diário preocupantes”, afirmou.
Sobre a cloroquina, Pasternak disse que diversos estudos já comprovaram que o medicamento não tem eficácia contra a covid-19 e que o negacionismo do governo federal em relação à pandemia mata. "Nós estamos pelo menos seis meses atrasados em relação ao resto do mundo, que já descartou a cloroquina e, aqui no Brasil, a gente continua discutindo isso."
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