O município de Morretes, no Litoral do Paraná, já foi o maior produtor de gengibre do País, mas problemas com o manejo e a concorrência com a produção da China fizeram a cultura declinar nos últimos anos. Técnicos do IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná-Iapar-Emater) afirmam que com manejo adequado é possível alavancar a produção. A atividade pode ser lucrativa, desde que o produtor invista em sistemas sustentáveis, adotando boas práticas na produção e na conservação de solo e água.
O cultivo de gengibre foi introduzido em Morretes na década de 1970 por famílias japonesas filiadas à Cooperativa Cotia. Nos anos 1980 foi iniciada a exportação e a produção anual chegou a 3.450 toneladas, numa área de 150 hectares, com uma produtividade média de 23 toneladas por hectare.
O município concentrava 50% do volume produzido na região do Litoral, com exportação de boa parte da produção. Hoje a área cultivada não passa de 40 hectares.
A engenheira agrônoma do IDR-Paraná Ruth Pires, de Morretes, afirma que o manejo adequado é essencial para uma boa produção do gengibre. A falta deste manejo foi um dos fatores da baixa na produção dos últimos anos.
"Muitos produtores faziam plantios sucessivos, sem rotação de culturas, o que causou o aparecimento de várias doenças. Também era comum a seleção negativa de mudas", explica a agrônoma. Ela acrescenta, ainda, que o uso excessivo de adubação química e de esterco de aves também causou o desequilíbrio nutricional nas plantas e o surgimento de doenças.
MERCADO– O mercado para a produção de gengibre é diversificado. O rizoma pode fazer parte de receitas culinárias, chás e medicamentos. Além disso, a planta é matéria-prima para a fabricação de balas, sorvetes, bebidas, cosméticos e perfumes.
O gengibre vem sendo valorizado pelo mercado por apresentar qualidades anti-inflamatórias, antibacterianas, anticoagulantes, digestivas e também por combater problemas respiratórios.
Segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, o preço médio de venda do gengibre ficou em R$ 43,84, a caixa de 20 kg. A maior parte dos agricultores vende a produção na Ceasa, em Curitiba.
Nos meses de janeiro e fevereiro o preço atinge seu ponto máximo, chegando a R$ 180,00 a caixa de 20 kg. O gengibre, porém, não está maduro nesta época do ano. A maturação ocorre a partir de junho/julho, período em que o preço cai 50%.
ORGÂNICO– No ano 2000 o Deral detectou que Morretes concentrava o maior volume de agrotóxicos para batata inglesa, sem que houvesse plantios regulares da cultura no município. O que acontecia era que os agricultores utilizavam os agrotóxicos da batata no gengibre. Esse problema levou o Estado a investir em uma pesquisa voltada à produção orgânica de gengibre.
A Secretaria da Agricultura, a Pontifícia Universidade Católica (PUC-PR) e o IDR-Paraná realizaram uma pesquisa de campo por três anos para estabelecer algumas referências para a produção orgânica de gengibre, sem o uso de agrotóxicos ou adubos químicos. Os dados foram apresentados aos produtores em cinco dias de campo nos anos em que a pesquisa foi realizada.
As recomendações continuam sendo repassadas aos produtores interessados em cultivar gengibre. Ruth Pires disse que é importante que o produtor faça uma "seleção positiva" das mudas, escolhendo os rizomas de maior qualidade para o plantio.
Outra dica é fazer a rotação de culturas, preferencialmente com plantas de cobertura/adubos verdes de rápido desenvolvimento.
A extensionista acrescenta que, a partir da pesquisa feita em 2000, foi possível verificar que a prática de plantar crotalária na mesma linha do gengibre ajuda a proteger a planta do sol forte do verão.
Outra recomendação que persiste é que o produtor não retire as plantas espontâneas, "plantas daninhas", da lavoura. Segundo Ruth, a meia sombra também evita doenças nas folhas do gengibre.
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