Com balões, bandeiras, camisetas e rosas brancas, alunos e professores da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Perimetral fizeram hoje (20) uma caminhada pelas ruas de Paraisópolis, uma das maiores comunidades da capital paulista. O objetivo foi chamar a atenção da comunidade sobre a importância de transformar as escolas em um espaço de paz, de acolhimento e de afeto.
A caminhada foi acompanhada também por alguns alunos e educadores de outras escolas municipais da capital, além do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e de diversos secretários municipais.
“Estou com muita confiança de que a escola é um local seguro e de que a gente precisa levar nossos filhos para as escolas, onde eles serão acolhidos por uma equipe superpreparada”, disse o prefeito, em entrevista a jornalistas.
“Estamos conseguindo atingir o nosso objetivo de demonstrar que as escolas são ambientes seguros. Essa campanha da cultura de paz, esse exemplo de estarmos aqui nessa escola, com presença de alunos e de pais, tem sido muito importante. Tenho certeza de que a gente vai seguir o que eu ouvi da aluna Ana Clara, que me falou que a escola é a nossa segunda casa. A gente precisa ter isso muito em mente”, destacou.
Ao lado do prefeito durante a entrevista a jornalistas, a pequena aluna Ana Clara reforçou o que havia dito a ele antes da caminhada. “Todas as crianças falam assim: tem criança que não gosta de escola. Mas na escola você se sente à vontade, você brinca, você aprende. Aqui você tem a sua segunda mãe, que é a sua professora, você tem seus colegas. Então, não tire os seus filhos da escola porque a escola é o melhor lugar para eles ficarem. Queremos paz”, pediu ela.
Quem também participou do evento foi o skatista Bob Burnquist, que ressaltou que, por meio do esporte, essa cultura de paz também pode ser conquistada. “Cresci aqui na cidade de São Paulo, aprendi a andar deskateaqui. Oskatecresceu de maneira incrível e essa é uma ferramenta muito bacana. O esporte, oskatee a educação são atividades pela paz. Temos que interagir um com o outro e ajudar no progresso de cada um: caiu, levanta. Oskateajuda muito nisso. E quero estimular vocês a estudar, a aprender o que está acontecendo no mundo e a se expressar na arte, na música, no esporte.”
A caminhada pelas ruas de Paraisópolis ocorreu após a realização de uma roda de conversa, em que os secretários municipais responderam a perguntas feitas por alunos. Os estudantes questionaram principalmente sobre as ações da prefeitura para prevenir a violência nas escolas e o que eles devem fazer quando receberem mensagens sobre ataques
“A escola se preocupa muito com a nossa educação intelectual, mas, às vezes, nós, alunos, precisamos de bem-estar e cuidar de nossa saúde mental. Quero perguntar quando é que psicólogos vão começar a atuar nas escolas públicas”, questionou a jovem Manuela, na pergunta que foi a mais aplaudida pelos presentes à roda de conversa.
Em resposta a essa aluna, os secretários municipais Marta Suplicy (Relações Internacionais) e Fernando Padula (Educação) informaram que há um programa da prefeitura em que professores da rede municipal, que têm também formação em psicopedagogia e psicologia, fazem uma itinerância pelas escolas. Hoje, segundo Padula, são 93 professores que atuam nesse projeto, mas a intenção é aumentar para 125. Na rede municipal paulistana, há mais de 4 mil escolas, centros educacionais e creches e mais de 1 milhão de alunos, segundo dados passados pelo próprio prefeito.
Na roda de conversa, o secretário da Educação também reforçou que os alunos devem denunciar aos órgãos competentes quando receberem mensagens com ameaças. “Pai, mãe ou estudante: quando receberem qualquer mensagem no seu celular ou na rede social falando de violência ou de ataques, por favor, não repasse. Segure o dedinho. Repassar aumenta o pânico e a sensação de insegurança. E o que fazer com relação a essa mensagem? Encaminhe-a para o linkdo Ministério da Justiça ou para a Polícia Militar (é preciso baixar o aplicativo 190 SP) porque aí as forças de segurança conseguem investigar e atuar para prender quem tem que prender ou derrubarsitesque estimulam a cultura violenta”, orientou Padula.
Já a secretária Marta Suplicy, que também é psicóloga, disse aos alunos para eles sempre buscarem o diálogo. “O importante é ter mais conversa na sala de aula. Vocês podem pedir para ter mais rodas de conversa na sala de aula: mas não para falar sobre ataques ou de violência, mas para falar do que cada um sente, dividir ideias e medos. Isso pode ajudar muito a diminuir essa tensão”, disse ela. “Temos que trabalhar com a paz, e a paz se conquista com a conversa. Não adianta ficar brigando”, completou.
A prefeitura informou que incentivou que todas as escolas municipais da cidade reservassem o dia de hoje para promover atividades artísticas, esportivas e musicais, buscando uma cultura de paz e de não violência. A medida, segundo a administração municipal, ajudou a combater notícias falsas que têm circulado em redes sociais que propagam o medo, a insegurança e a desinformação. “Queríamos ressignificar esse dia, pegar o dia 20 e simbolizá-lo como um dia de paz e de convívio. Então, todas as escolas foram estimuladas justamente para ter essa acolhida, essa confraternização, esse momento de paz e de convivência, com fortalecimento dos grêmios e das condições de mediação de conflito”, disse o secretário municipal de Educação. “O que precisamos mesmo é propagar a paz”, reforçou.
Em entrevista àAgência Brasil, o secretário admitiu que implantar uma cultura de paz não é um processo rápido, mas é necessário para diminuir a violência nas escolas. “Primeiro é preciso ter serenidade. Fazer isso é um movimento de médio e longo prazo. E você fortalece isso garantindo que toda escola, por exemplo, tenha um grêmio, garantindo a gestão democrática, tendo comissões de mediação de conflito, estimulando a participação dos pais no conselho de escola. Assim se vai construindo uma escola participativa, democrática e de paz”, destacou Padula.
“As escolas são ambientes seguros, que precisam ser preservados. Acho que a pandemia trouxe uma consequência grave de distanciamento das crianças nas escolas. E precisamos garantir que as crianças estejam nas escolas, atuando de maneira preventiva por meio das forças de segurança e investigando quem faz ameaças.”
Segundo ele, além de promover a cultura de paz, a prefeitura tem buscado também oferecer mais segurança às escolas de São Paulo. “A Guarda Civil e a Polícia Militar reforçaram a ronda escolar. Temos também um botão de alerta , que foi lançado essa semana. Mas a ideia é que não seja preciso utilizar esse botão, mas encaminhar as denúncias e as ameaças para as autoridades de segurança e incentivarmos para que todas as escolas, com suas autonomias, possam fazer atividades como rodas de conversa, pintura, abraços coletivos, caminhadas e diversas ações ressignificando o dia de ameaça.”
No dia 20 de abril de 1999, ocorreu o massacre na escola Columbine, nos Estados Unidos. Nos últimos dias, circularam nas redes sociais mensagens sobre ameaças de ataques a escolas nesta data.
Além do canal Escola Segura , do Ministério da Justiça, o serviço Disque 100 passou a receber denúncias de ameaças de ataques a escolas. As informações podem ser feitas por WhatsApp, pelo número (61) 99611-0100.
Em caso de emergência, a orientação é ligar para o 190 ou para a delegacia de polícia mais próxima.
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