A Rede Intermunicipal de Liberdade Religiosa do Rio de Janeiro trabalha para concluir, nesta semana, o planejamento de um banco de dados sobre a intolerância religiosa em todo o estado, com informações de casos registrados nos 92 municípios fluminenses. O painel pode ser um dos frutos da 2ª Semana Carioca de Diversidade Religiosa, que acontece entre hoje (16) e 19, marcando a comemoração do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, celebrado no próximo sábado (21).
A consolidação do banco de dados foi pauta de uma reunião realizada hoje na Cidade das Artes, que contou com a participação da Coordenadoria Executiva de Diversidade Religiosa da capital (Cedir), da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e outros órgãos de defesa dos direitos humanos.
Coordenador Executivo da Diversidade Religiosa do Município do Rio de Janeiro, o professor e babalorixá Márcio de Jagun explicou que a articulação com as fontes desses dados já está costurada, e o grupo agora define a operacionalização do projeto.
"O que a gente quer mesmo como grande inovação é fazer uma compilação dos 92 municípios do estado do Rio de Janeiro e disponibilizar em tempo real", explicou o coordenador. "De forma que, não só essas vítimas possam ser mais rapidamente acolhidas nos diversos locais do estado do Rio de Janeiro, como também a gente consiga ampliar as informações de peculiaridades sobre a intolerância que se registra em cada uma dessas áreas", acrescentou.
Para alimentar esse banco de dados, serão usadas informações dos municípios, da Polícia Civil, do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro e também de universidades, instituições da sociedade civil e imprensa.
"A intolerância que ocorre na Baixada Fluminense é diferente da que ocorre em Angra dos Reis , em Macaé, em Niterói e assim sucessivamente. A gente precisa entender cientificamente isso e humanitariamente promover reparações e acolhimento dessas vítimas com mais agilidade", disse Márcio de Jagun.
Márcio de Jagun disse que a estrutura do banco de dados deve ser concluída durante as discussões da Semana Carioca de Diversidade Religiosa, e o lançamento ocorrerá tão logo seja possível.
A formação da rede intermunicipal se deu a partir de iniciativa da Coordenadoria Executiva de Diversidade Religiosa da capital, também como uma forma de ajudar os municípios a entenderem o problema para que possam ampliar a rede de atendimento às vítimas e as portas de denúncias.
O coordenador da Cedir disse que, na cidade do Rio de Janeiro, a intolerância religiosa se dá de formas sutis e hostis, desde preterições no ambiente de trabalho até agressões físicas, invasões e depredações de templos e residências.
"É um delito muito peculiar. Não por acaso, a gente brigou muitos anos pra ter uma delegacia especializada na qual esperamos, e felizmente temos sido atendidos, que os policiais tenham uma escuta muito peculiar para isso", disse.
Márcio de Jagun disse que o número de denúncias de intolerância religiosa tem crescido na cidade do Rio de Janeiro, mas que também pode ser interpretado como resultado de uma receptividade maior aos denunciantes por parte do poder público. A cidade já passou da marca de dez denúncias por semana, e hoje registra entre dez e 15 casos de intolerância religiosa a cada 7 dias.
"O fato de o número estar aumentando não significa dizer que o tema esteja sendo negligenciado, pelo contrário, a gente ampliou as portas de entrada. Ou seja, as pessoas se sentem mais seguras em denunciar. Isso é muito positivo por esse aspecto", afirma. "Historicamente, muitas matrizes religiosas eram guetizadas. Elas sobreviviam se escondendo da sociedade. Então, hoje, quando esses casos vem à tona, eu considero um ganho".
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