A decisão da Fundação Palmares, que por meio de seu presidente, Sérgio Camargo, tem dito que quer excluir de seu acervo 5.300 livros, provocou repúdio do Conselho Federalde Biblioteconomia. A fundação alega que essas obras não correspondem à ideologia do órgão, são marxistas, estão velhas e em desacordo ortográfico.
Segundo relatório intitulado "Retrato do Acervo: A Doutrinação Marxista", publicado pela Palmares na sexta-feira (11), esses livros são "obras pautadas pela revolução sexual, pela sexualização de crianças, pela bandidolatria e por um amplo material de estudo das revoluções marxistas e das técnicas de guerrilha".
Além de obras de Marx, Engels e Lênin, a lista de livros contém títulos de autores como Max Weber, Eric Hobsbawn, H. G. Wells, Celso Furtado, Marco Antônio Villa.
Entre os títulos expurgados, está também o "Dicionário do Folclore Brasileiro", obra clássica do historiador natalense Câmara Cascudo. Segundo a comissão analisadora, este é "um livro não só gramatical e ortograficamente desatualizado, mas com páginas soltas e exibindo um forte cheiro de mofo".
Machado de Assis também teve obras retiradas por estar com o português desatualizado. “Hoje, quem desejar ler na Palmares, por exemplo, 'Papéis Avulsos', de Machado de Assis, encontrará uma edição de 1938, a qual prestará um desserviço ao estudante brasileiro, pois ele aprenderá a escrever “chronica” em vez de crônica; “Hespanha” em vez de “Espanha”; e “annos” em vez de “anos”. É um exemplar que só pode ser utilizado por linguistas ou estudiosos machadianos, mas não pelo público em geral”, afirma o relatório.
De acordo com o documento, o acervo da fundação conta com 9.565 títulos, dos quais 46% são de temática negra, enquanto 54% são de temática alheia à negra
"O Conselho Federal de Biblioteconomia repudia a decisão da Fundação Palmares de eliminar parte de seu acervo bibliográfico, ignorando, para isso, os critérios técnicos e científicos da Biblioteconomia e dos princípios que regem a administração pública", afirmou em nota o conselho.
Para a entidade, o documento divulgado pela Palmares tem critérios pessoais e não se caracteriza como uma política de desenvolvimento, o que pode trazer prejuízos ao patrimônio bibliográfico do país.
"Ao pretender justificar a eliminação do acervo construído pelas gestões anteriores valendo-se de uma linguagem depreciativa e infundada, a Fundação Palmares expõe a ingerência ideológica numa atividade que deveria primar pela técnica", conclui o conselho
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