Essa foi a segunda captação de coração do HRC neste ano
Antes da realização do procedimento, silêncio total na sala cirúrgica. “Vamos respeitar um minuto de silêncio em homenagem ao paciente e seus familiares que autorizaram a doação”. Essas foram as palavras do cirurgião cardíaco Fernando Mesquita, antes de iniciar uma captação múltipla de órgãos, na manhã da última terça-feira (1º), no Hospital Regional do Cariri (HRC), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), em Juazeiro do Norte.
Essa foi a 27º captação na região do Cariri em 2023. Até o ínício de agosto, foram captados 10 órgãos e 17 tecidos. A doação múltipla incluiu coração, rins, fígado e córneas, que serão destinados a pacientes que aguardam na fila por transplantes.
O coração é um órgão sensível e não é simples de ser transplantado, pois precisa ser retirado e implantado em até quatro horas. É o que explica o cirurgião Fernando Mesquita. “No momento da captação aqui [no HRC], o paciente que está aguardando o transplante é comunicado e inicia-se a preparação dele, principalmente quando se trata de coração, onde o tempo é mais curto”, explicou.
O órgão captado no HRC tinha um destino: o Hospital de Messejana (HM), em Fortaleza. Foram pouco mais de duas horas entre a captação do órgão em Juazeiro do Norte, até a sua chegada no centro cirúrgico do HM. Para tudo dar certo em tempo hábil, é necessária muita sincronia entre as equipes médicas. “É uma força-tarefa. Antes de sairmos do Cariri, com o órgão já preparado para o implante, a equipe que vai receber o órgão começa a entrar na sala de cirurgia para começar o procedimento com o receptor. Tudo precisa estar preparado para quando chegarmos, já iniciarmos o transplante no paciente”, concluiu Fernando Mesquita.
O intervalo entre a retirada do coração e a realização do transplante deve ser de, no máximo, quatro horas
A doação de múltiplos órgãos só ocorre depois da constatação de morte encefálica (ME) pela equipe médica especializada. Embora a doação de órgãos seja fundamental para salvar vidas, o tema ainda carrega estigma e muitas famílias ainda recusam a doação. Nesse momento, o papel dos profissionais do hospital é fundamental para acolher os familiares e fazê-los entender todo o processo em um momento de dor.
Wagner Brito, enfermeiro da Organização de Procura de Órgãos e Tecidos (OPO) do HRC, é um dos responsáveis pelo trabalho de sensibilização, junto aos familiares. “Quando a morte encefálica é decretada, os familiares são informados e uma equipe especializada presta apoio emocional à família. Em seguida, oferecemos a possibilidade de doação de órgãos e tecidos”, explicou Wagner.
Ainda de acordo com o profissional, com o consentimento familiar o protocolo continua em andamento com a realização de exames clínicos e a Central de Transplantes é notificada para captação. “A doação é um ato de caridade e amor ao próximo que só Deus pode compensar. Um único doador pode beneficiar diversas pessoas que estão na lista de espera por transplantes”, finalizou.
No Brasil, a doação só é realizada após autorização de um parente. Por isso, é imprescindível informar à família sobre o desejo de ser um doador.
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