Ambulatório de Hepatites do Hospital São José é referência no tratamento da doença; em 2022, o serviço realizou 1.068 atendimentos
No início deste ano, o mecânico Ricardo Rodrigues, 55, buscou um reumatologista para tratar dores decorrentes de uma artrite reumatoide. Após realizar os exames solicitados pelo médico, ele recebeu o resultado positivo para hepatite C. Logo em seguida, foi encaminhado ao Hospital São José (HSJ), unidade da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), referência no tratamento de hepatites virais.
“O tratamento do Hospital São José é muito bom. Essa doença tem cura, basta a pessoa se vigiar e tomar os medicamentos direito. Fiquei curado”, comemorou o paciente. Erradicar a hepatite C até 2030 está entre as metas da Organização Mundial de Saúde (OMS). O tratamento dura 12 semanas, possui quase nenhum efeito colateral e apresenta taxas de cura superiores a 95%.
Neste mês, a campanha Julho Amarelo orienta sobre a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das hepatites virais. A hepatite é uma inflamação do fígado e pode ser causada tanto por vírus quanto pelo uso de medicamentos, álcool e outras drogas, bem como por doenças autoimunes.
Conforme a médica hepatologista do HSJ, Elodie Hyppolito, as hepatites virais costumam ser doenças traiçoeiras, uma vez que não apresentam sintomas em sua fase inicial e podem evoluir silenciosamente durante décadas para cirrose ou até mesmo câncer.
“É importante a gente entender que aqueles sintomas que a gente aprendeu de hepatite — olhos amarelados, urina escura, febre e mal-estar — vão acontecer em menos de 30% dos casos de hepatites A e B e quase nunca em casos de hepatite C. A gente não pode esperar os sintomas para fazer o teste”, alertou Hyppolito, que também coordena o Ambulatório de Hepatites do HSJ. Em 2022, o serviço realizou 1.068 atendimentos.
Causadas por vírus, as hepatites virais são classificadas em cinco tipos: A, B, C, D e E. De janeiro de 2013 a junho de 2022, foram notificados 4.095 casos de hepatites virais no Ceará. Destes, o tipo que apresenta maior incidência no estado é a hepatite C, com 1.864 casos (45,5%), seguido pela hepatite B, com 1.520 (37,1%), e pela hepatite A, com 711 (17,4%).
De acordo com a hepatologista, a transmissão das hepatites B, C e D é a mesma do vírus do HIV. No caso da hepatite C, a principal forma de contágio é pelo sangue. Já a propagação das hepatites B e D pode acontecer, principalmente, pelo sexo ou de mãe para filho.
As hepatites A e E, por sua vez, são transmitidas por meio de água e alimentos contaminados. “Nós temos a hepatite A, transmitida através de água e alimentos, e a hepatite E, menos falada no nosso meio, mas que também é importante em indivíduos que lidam com animais: tratadores de porcos, açougueiros, cuidadores de cavalos e bois podem estar mais expostos a essa doença”, destacou.
Hyppólito reforçou ainda a importância da vacinação como medida de prevenção da hepatite B, sobretudo quando menos de 50% da população adulta do Ceará encontra-se vacinada. “No posto de saúde mais perto da sua casa, você tem disponível a vacina da hepatite B. Ela é feita em três doses, é muito segura, conhecida há mais de 50 anos e altamente eficaz”, salientou.
Também está disponível nos postos de saúde a vacina contra hepatite A, que faz parte do calendário infantil no esquema de uma dose aos 15 meses de idade.
A médica enfatiza a necessidade de conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce das hepatites virais. Segundo ela, qualquer pessoa com mais de 40 anos deve fazer os testes rápidos para as hepatites B e C.
Está mais suscetível, especialmente, a população que se expôs a transfusão de sangue, tatuagem e/ou uso de drogas, além de pessoas com ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), com doenças crônicas que requerem internações frequentes, com múltiplos parceiros e, ainda, profissionais da saúde.
“Antigamente, antes do surgimento do HIV, quando a gente ia ao posto de saúde ou dentista, para tomar vacina ou fazer tratamento dentário, a gente usava material não descartável. Então, qualquer pessoa que fez cirurgia ou esteve em ambiente hospitalar pode ter contraído a hepatite B ou a hepatite C”, explicou.
O tratamento da hepatite C, como o feito pelo paciente Ricardo Rodrigues, é altamente eficaz e cura quase 100% dos pacientes. “O tratamento da hepatite B não cura, mas controla a doença, igual ao de HIV. E mesmo só controlando, impede que o paciente precise ir para o transplante e tenha câncer de fígado, então é muito vantajoso”, ressaltou. Já as hepatites A e E não têm tratamento específico, mas os sintomas podem ser aliviados com medicamentos prescritos pelo médico.
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