Fotos: Ascom/Cidasc
Major Gercino, município de pouco mais de três mil habitantes no entorno da Grande Florianópolis, tem agora duas queijarias detentoras do Selo Arte, criado pelo Ministério da Agricultura e da Pecuária para distinguir produtos artesanais. A Queijaria Vô Ipa e o Sítio Quiqueo Marchi podem comercializar os produtos que receberam o selo para todo o país, ampliando suas possibilidades de negócio.
Uma solenidade realizada nesta quinta-feira, 11 de maio, nas instalações da Vô Ipa, marcou a entrega do Certificado Selo ARTE para as duas agroindustriais artesanais. A Cidasc é quem concede o Selo Arte em Santa Catarina, seguindo as diretrizes estabelecidas pelo MAPA. A agroindústria precisa estar registrada no Serviço de Inspeção Municipal (SIM) ou no Serviço de Inspeção Estadual (SIE), adotar processos predominantemente manuais ou artesanais e utilizar matérias primas de origem animal de produção própria ou com origem conhecida.
As autoridades e amigos que acompanharam a cerimônia trataram a entrega do Selo Arte como uma conquista para o município. O empresário do Sítio Quiqueo Marchi, Valdecir Marchi, lembrou que a criação do Serviço de Inspeção Municipal (SIM) foi fundamental para o resultado presente. Ele também destacou que ver empresas locais conquistarem o Selo Arte serve de estímulo para outras agroindústrias do município, de mel ou queijo, aderirem ao SIM e trilharem o caminho semelhante ao das duas queijarias.
A importância dos serviços de inspeção sanitária para a agroindústria também foi destacada pelo superintendente do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) em Santa Catarina, Túlio Tavares dos Santos. “A criação do SIM foi uma destas visões de futuro da prefeitura, o primeiro passo para tudo. Temos que criar o SIM e depois evoluir, até chegar no Selo Arte, que foi criado para identificar aquele produto artesanal, mas não é um simples produto artesanal: um produto que traz toda a cultura de uma comunidade, que não tem igual no mundo, e permite que este queijo seja comercializado em todo o país”, enfatizou Túlio.
O gestor do Departamento Estadual de Inspeção (DEINP), Jader Nones, relembrou o trabalho desenvolvido pela Cidasc e pela Epagri, empresas ligadas à Secretaria de Estado da Agricultura, junto às agroindústrias, bem como a dedicação dos responsáveis técnicos que as atenderam. “Vemos que é possível para uma pequena propriedade se regularizar e, melhor que isso, conquistar o Selo Arte e vender para o Brasil inteiro”, apontou Nones ao falar do pioneirismo das duas queijarias em Major Gercino. Mencionou ainda as celebrações do Mês da Saúde dos Animais de Produção e citou a sanidade animal como ponto de partida para produtos de origem animal de boa qualidade.
A proprietária Alice Schlichting, da queijaria Vô Ipa, relembrou toda a história da família e as dificuldades encontradas até a conquista do certificado. “Agradeço ao vô Ipa e a vó Janete que acreditaram na gente e nos abriram as portas da casa para realizar um sonho que era nosso. Continuaremos trabalhando para trazer novos produtos. Acreditem, logo teremos novidades”, celebrou Alice.
Também estiveram presentes na entrega a responsável pelo SIE no Departamento Regional de Itajaí da Cidasc, Daisy Brodbeck Mendieta Cordeiro, e o médico veterinário da Cidasc de Itajaí Anderson Costa Silva. O extensionista Remy Simão representou a Epagri.
Entre as autoridades, compareceram os vereadores Beto e Augustinho Orlandi, respectivamente presidente e vice-presidente da Câmara de Vereadores de Major Gercino e o deputado estadual Marquito.
A família do senhor Nélio Schlichting (Vô Ipa) tem suas origens no município de Leoberto Leal. Ele e seus familiares já produziam queijo e levavam para vender na região Diamante, em Major Gercino. Hoje, ele e um irmão mais velho vivem da produção e venda do Queijo Colonial Artesanal Região Diamante, tipo de queijo que a comunidade local sonha em registrar como produto com indicação geográfica, típico da região.
Nélio e a esposa Janete tiveram filhos gêmeos, Marcos e Marcelo, e nos anos 90 enfrentaram dificuldades econômicas: a produção do queijo para sustento da família foi mantida com uma vaca emprestada. As dificuldades foram contornadas e a produção do queijo prosseguiu, em alguns momentos em paralelo com outras atividades rurais.
Em 2017, Janete e outros seis produtores da região foram contemplados com um projeto da Fundação Banco do Brasil, recebendo uma Casa de Queijo que atendia as normas sanitárias e possibilitava o registro na inspeção municipal.
Outro momento importante foi o retorno à propriedade do filho Marcelo, já com a esposa Alice e o primeiro filho de ambos. Junto, a família concluiu o processo de registro da Queijo Artesanal Vô Ipa, e desde então tem vivenciado momentos muito desafiadores e ao mesmo tempo gratificantes.
A origem rural e humilde, fez Natália Quiqueo Marchi e Mario Marchi, criarem seus 14 filhos com sua produção de leite e queijo artesanais, uma tradição de mais de 60 anos. Um destes filhos é Valdecir Marchi, o descendente da família de origem indígena e italiana que permaneceu na propriedade e persistiu na produção do queijo artesanal conhecido como Diamante.
Em 1987, Valdecir casou com Maria de Lourdes, de Boiteuxburgo, outra localidade de Major Gercino, também filha de agricultores familiares produtores de queijo artesanal. O casal enfrentou momentos difíceis, a ponto de não ter mais vacas para produzir leite.
Sempre emocionado ao lembrar de seus pais, Valdecir lutou bastante para manter o sonho de produzir e legalizar seu queijo. Com apoio de toda a família, amigos e entidades, ele e a esposa mantiveram a produção até conseguirem construir sua casa de queijo, em 2017, por meio de projeto financiado pela Fundação Banco do Brasil e apoio da Epagri.
Desde então, Valdecir também lutou muito como secretário de Agricultura do município de Major Gercino para a conclusão da Lei do Queijo Artesanal do Estado de Santa Catarina, para a construção da lei municipal e do decreto para o Serviço de Inspeção Municipal.
A contratação do inspetor municipal para o serviço de inspeção e a contratação do responsável técnico para as agroindústrias de queijo, em 2021, foram essenciais para a conclusão de um primeiro objetivo. Assim, o sonho de regularizar seu queijo e colocar o rótulo do Queijo Colonial Artesanal Região Diamante se tornou realidade no dia 24 de junho de 2022, trazendo ainda mais brilho para essa história.
Durante o processo de legalização, dona Lourdes e Valdecir decidiram contratar uma pessoa para ajudá-los com a produção de leite e queijo. Assim, foi dada oportunidade a Jaqueline, jovem queijeira do sítio Quiqueo Marchi.
Texto: Denise De Rocchi e Alessandra Carvalho
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