Nos três principais campeonatos internacionais de monopostos (Fórmula E, Fórmula 1 e Fórmula Indy), apenas a primeira tem, atualmente, pilotos brasileiros garantidos em todas as etapas dos respectivos grids. Lucas Di Grassi e Sérgio Sette Câmara representam o país na categoria dos carros elétricos, cuja temporada 2021 começou nos dias 26 e 27 de fevereiro, com duas corridas em Al-Diriyah (Arábia Saudita).
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Di Grassi é o mais experiente (e não apenas porque é 14 anos mais velho que Sette Câmara). O paulista de 36 anos, da equipe Audi, disputa a Fórmula E desde a temporada inaugural, em 2014, e venceu a primeira corrida da história da categoria. É o piloto com mais provas (71) no campeonato e o segundo que mais etapas ganhou (10, três a menos que o suíço Sébastien Buemi). Foi, ainda, campeão na edição 2016/2017, vice duas vezes (2015/2016 e 2017/2018) e terceiro em mais duas ocasiões (2014/2015 e 2018/2019).
Seis etapas estão marcadas até junho e outras seis aguardam a confirmação da Federação Internacional de Automobilismo (FIA). O cenário de indefinição se deve à pandemia do novo coronavírus (covid-19), que, na temporada passada, após as quatro primeiras provas, teve as últimas seis corridas realizadas em uma maratona de oito dias no aeroporto de Tempelhof, em Berlim (Alemanha).
“[2020] foi um ano muito atípico e não é de praxe a Fórmula E fazer tantas provas em um único local. Foi bem estressante e diferente, pois dava para melhorar o carro dia após dia. Mas foi algo que não condiz com a realidade. Estávamos há praticamente um ano sem uma corrida normal. A última tinha sido em Marrakesh [Marrocos, em 29 de fevereiro do ano passado]”, comentou Di Grassi à Agência Brasil.
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A edição deste ano também fugirá à normalidade. A quarta etapa (24 de abril) está marcada para Valência (Espanha). Será a primeira vez que a Fórmula E, tradicionalmente disputada em pistas de rua, de menor velocidade, terá uma corrida em um circuito tradicional (Ricardo Tormo), que recebeu a pré-temporada da categoria em 2017. Segundo a FIA, o percurso terá “uma configuração desenhada especialmente” para a categoria.
Para Di Grassi, a prova espanhola, que substituirá a etapa de Paris (França), cancelada devido à pandemia, deverá ser uma das mais imprevisíveis de 2021: “Veículos como um Fórmula E, um Fórmula 1 ou um Fórmula Indy são desenhados com características específicas para determinada pista. O da Fórmula E foi desenhado para pistas de rua. Nosso pneu é supermole, serve para piso seco ou molhado, foi desenvolvido para energias baixas, velocidades reduzidas, como a Fórmula 1 usa em Mônaco. Nosso pneu é assim o ano inteiro, então, em uma pista de alta velocidade, ele [pneu supermole] derrete como chiclete”, explicou o piloto.
“O trem de força [de um veículo de Fórmula E] foi desenhado para, no máximo, 250 quilômetros por hora. Em pistas maiores, o carro pode chegar a 300 quilômetros por hora. Há uma série de dificuldades técnicas porque o calendário inicial não levava em conta pistas tradicionais. Então, faz diferença, não é algo que foi planejado no desenvolvimento inicial do carro. Mas não há muito o que fazer. A Fórmula E tem feito o melhor para contornar essa pandemia”, completou o brasileiro.
Após duas etapas, Di Grassi aparece na 14ª posição do campeonato, com seis pontos, após um nono e um oitavo lugar, respectivamente. Sette Câmara, da equipe Dragon Penske, está em nono, com 12 pontos, somados com a quarta colocação na segunda corrida em Al-Diriyah (na primeira, ficou em 20º). O neerlandês Nyck de Vries (Mercedes), com 32 pontos (uma vitória) lidera, seguido pelo britânico Sam Bird (Jaguar), com 25 pontos (e também um triunfo).
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Se atualmente está em baixa nas principais categorias do automobilismo internacional, sem representantes fixos na Fórmula 1 desde 2017 e com Tony Kanaan e Hélio Castroneves confirmados em apenas cinco das 17 etapas da Fórmula Indy em 2021, o Brasil segue 100% presente na Fórmula E. O país teve ao menos dois representantes em cada uma das sete temporadas (contando com a atual). Na edição de 2018/2019, quatro brasileiros chegaram a fazer parte do grid. O primeiro campeão da categoria foi Nelsinho Piquet (2013/2014).
“O automobilismo é muito complexo. Requer talentos individuais e temos bons nomes mundo afora. Temos [Gianluca] Petecof, [Felipe] Drugovich [ambos na Fórmula 2], [Pietro] Fittipaldi [piloto reserva da equipe Haas na Fórmula 1 e que disputou duas provas no fim da última temporada] surgindo. Temos os já estabelecidos, como o Pipo [Derani, que disputará o Mundial de Endurance em 2021], o próprio Tony, o Helinho, que acabou de vencer [as 24 horas de] Daytona [tradicional evento de carros esportivos]”, enumerou Di Grassi.
“Mas a falta de brasileiros nas categorias tops mostra que o automobilismo não é algo que simplesmente acontece no Brasil. É resultado de infraestrutura, investimento e planejamento, desde o kartismo, do longo prazo. É igual à educação, de forma geral. Você não pode pegar um [único] mandato de um presidente e organizar [toda] a educação no Brasil. Não funciona assim. O brasileiro pensa no curto, no curtíssimo prazo. Precisa ter categoria de base, autódromos, eventos nacionais, kartismo forte”, concluiu o paulista.
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