No fim de fevereiro, o Brasil alcançou um marco histórico ao lançar o primeiro satélite 100% nacional, o Amazônia-1, que foi projetado e produzido no país. O equipamento será usado para monitorar o avanço do desmatamento e acompanhar a agricultura.
O objetivo do governo com o projeto é aumentar a autonomia no setor aeroespacial. Com um satélite brasileiro, não há os gastos com a importação de tecnologias e pode atrair a atenção internacional para futuras parcerias.
Apesar de ter duas bases de lançamento em território nacional, o centro de lançamento da Barreira do Inferno, em Natal, no Rio Grande do Norte, e a Base de Alcântara, no Maranhão, o programa espacial brasileiro ainda não consegue lançar o próprio satélite. Para chegar na órbita do planeta, o Amazônia-1 foi desmontado, enviado para a Índia e então chegou ao espaço em um foguete.
Com a Agência Espacial Brasileira (AEB) criada em meados da década de 1960, o Brasil é o país mais desenvolvido no setor aeroespacial na América Latina, mas está bem atrás em comparação com as principais potências desse setor, como EUA, Rússia, Índia e China. Segundo o presidente da Agência Espacial Brasileira, Carlos Moura, o motivo desse atraso é a falta de investimento.
“Não conseguimos nos desenvolver como esses países. Eles estavam conosco nesse início [a Agência Espacial Indiana foi criada em 1969] e conseguiram avançar bastante, mas a nossa agência está devendo uma série de objetivos porque faltou investimento e coordenação dos esforços”, afirma.
Moura explica que a tecnologia aeroespacial pode ajudar a população e o país em todas as áreas da ciência, como comunicação, defesa e infraestrutura. “Não falta onde aplicar, o que falta é fôlego para atender tudo isso”, afirma.
Com orçamento insuficiente, a agência brasileira busca identificar áreas em que satélites podem ser usados para desenvolver pesquisas e produtos que fortalecem a indústria nacional e o setor espacial.
Mesmo em tempos de crise e com uma pandemia assolando o mundo, o campo espacial segue em expansão, setor cresceu de 5 a 8% nos últimos anos.“É fácil de entender o porquê, todo mundo usa celular e depende da comunicação”, explica Moura.
O presidente da AEB afirma que existem diversas áreas que poderiam ser beneficiadas com o suporte de um satélite, mas que o país ainda não investe. “Nós não usamos satélites na supervisão do mar, em questão de fronteiras, em demandas ambientais, na segurança e na defesa”.
No imaginário da maioria das pessoas, as missões espaciais estão relacionadas com astronautas flutuando na estação espacial ou explorando outros planetas do Sistema Solar. Essa, porém, é uma realidade distante do atual cenário brasileiro.
Segundo o presidente da AEB, ainda não há planos para formar um novo astronauta brasileiro, já que o processo de formação é caro e o Brasil não dispõe de um centro de treinamento, como a Nasa.
O atual ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, foi o primeiro e último brasileiro a ir ao espaço, em 2006, quando permaneceu por 8 dias a bordo da Estação Espacial Internacional realizando experimentos científicos.
A Base de Alcântara, no Maranhão, é um dos destaques do programa espacial brasileiro. Com uma posição privilegiada próxima da Linha do Equador, conta com condições meteorológicas favoráveis para lançamentos praticamente no ano todo echegou a ser usada em testes pela Nasa, agência espacial norte-americana.
Criada em 1983, a base começou a funcionar em 1991 visando experimentos científicos, mas uma explosão que matou 21 pessoas, em 2003, mudou sua forma de funcionamento. Apesar de manter o funcionamento, Alcântara não faz o lançamento de satélites e agora será usada comercialmente por empresas interessadas a partir de 2022.
“No ano passado, tivemos um chamamento internacional para que empresas pudessem se candidatar e usar a Base de Alcântara. Nove empresas prosseguiram nessas negociações e estão tendo os contratos negociados pela Aeronáutica”, diz Moura.
Programas espaciais são caros. A pesquisa, os projetos e a construção de satélites dependem de bilhões em investimentos, e, com o orçamento cada vez mais apertado, é difícil que um setor tão ambicioso consiga se desenvolver plenamente.
O governo dos EUA libera uma verba bilionária para a Nasa e países como Índia e China incentivam o desenvolvimento do setor com bolsas de estudos para jovens universitários interessados em áreas aeroespaciais e injetam dinheiro nas agências estatais. No Brasil, o orçamento foi caindo a cada ano e agora a Agência Espacial estuda como conseguir bancar os projetos e pesquisas.
“Custos são sempre questionados”, reflete Moura. “Você tem que desenvolver meios que ajudem a cuidar da sua casa. Nós gastamos muito com atividades que tenham a ver com o espaço, comunicação, IBGE, defesa… Não é questão de gastar com produtos nossos?”
O presidente da Agência conta que o orçamento “nunca foi o suficiente, sempre tem altos e baixos. Mas, nos últimos anos, foi ficando mais apertado”. Com isso, os especialistas tentam encontrar formas de obter recursos, como com o chamamento internacional para o uso da Base de Alcântara.
No Brasil, sete universidades oferecem o curso de Engenharia Espacial, incluindo o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em São Paulo, e outras instituições de ensino que têm cursos de pós-graduação voltados à área.
“Em formação de pessoal, estamos bem, mas precisamos dar sequência a essas pessoas. O setor e a economia estão crescendo muito, queremos que isso se internalize no Brasil”, afirma Moura.
Moura defende levar informação sobre a agência e o desenvolvimento espacial para a população. “Precisamos considerar o programa como prioridade e entender que ele não é uma coisa isolada, mas uma infraestrutura nacional necessária”, conclui.
Mín. 17° Máx. 21°
Mín. 16° Máx. 20°
Chuvas esparsasMín. 13° Máx. 24°
Chuvas esparsas