Fotos: Marco Fávero / Secom
O nascimento de um bebê prematuro é um desafio para ele, mãe, pai, profissionais de saúde e hospitais que prestam assistência. Uma dessas crianças foi a pequenina Dandara, que veio ao mundo em julho, com 24 semanas e pesando apenas 450 gramas, na Maternidade Carmela Dutra, unidade própria da Secretaria de Estado da Saúde (SES) que é referência em gestação de alto risco. Considerada uma prematura extrema, ela é a menor bebê a nascer e sobreviver na maternidade. A história dela será contada neste Dia Mundial da Prematuridade, 17 de novembro.
Ana Maria Santos da Silva, 36 anos, mãe de Dandara, enfrentou uma gravidez de risco, com hipertensão e diabetes gestacional. No dia 27 de julho, o susto. Devido a um descolamento de placenta precisou passar por uma cesária de urgência. Os riscos de um parto tão prematuro exigiram um cuidado extremo da equipe, principalmente nas primeiras 72 horas de vida da bebê.
Com uma equipe reduzida e o mínimo de manuseio possível, além dos minuciosos cuidados de temperatura e frequência cardíaca e respiratória, o trabalho foi bem sucedido. Ela venceu esse período e pode estar em contato físico com sua mãe.
“Logo quando eu tive ela, não tinha ideia do que era esse mundo da prematuridade. É muito difícil você ter o bebê e não poder levar para casa. O que mais me doía era isso. Só que eu tive muito apoio aqui, as meninas sempre me acolheram muito bem e todos os dias eu ouvia uma coisa boa, por mais que tivesse algo ruim no quadro dela. Pra mim é desafiador. Todo dia é uma surpresa. Mas eu sempre tive esperança”, emociona-se Ana Maria.
Rotina desafiadora
Tem sido uma rotina intensa para a família, especialmente para a mamãe. Ana Maria chega às 7h na maternidade e acompanha, de perto, todo o cuidado com a sua bebê, permanecendo o máximo de tempo possível com a filha no colo, um processo que se repete diariamente.
Quando não está no contato pele a pele, Dandara fica na incubadora híbrida, que vira berço e é utilizada pelos prematuros extremos. De três em três horas ela é alimentada por uma sonda nasogástrica, com o leite disponibilizado pela Maternidade.
A bebê também utiliza um CPAP nasal específico para prematuros, o equipamento lhe dá suporte ventilatório, auxiliando no transporte de oxigênio para os pulmões. Essa técnica, aliada a uma boa nutrição, controle de infecção e atendimento humanizado, ajuda no bom resultado e sobrevida das crianças internadas na Unidade Neonatal.
Sob os olhos atentos, cuidados amorosos, colo aconchegante e contato pele a pele com sua mãe, Dandara segue lutando pela vida. Hoje, com mais de 110 dias, a pequena guerreira já atingiu 1,5 Kg. “Meu Deus, eu sou muito feliz de ter minha filha, independente de como ela nasceu. Foi bem difícil os primeiros dias. Mas estou muito ansiosa para levar ela para casa, agora que ela tá ganhando um peso”, reforça Ana Maria. A pequenina seguirá internada na Carmela Dutra até atingir o peso ideal e condições de saúde para a alta hospitalar.
Referência em gestante de alto risco
A Maternidade Carmela Dutra, unidade da rede própria da SES, além de realizar partos, cuida da Saúde da Mulher de forma integral. Possui uma estrutura hospitalar preparada com tecnologia e equipe multiprofissional, onde 10% dos nascimentos foram prematuros entre janeiro e novembro de 2023. Para os recém-nascidos que precisam de monitoramento e suporte ventilatório, possui uma Unidade Neonatal com 10 leitos de UTI e 12 leitos de cuidados intermediários.
O atendimento humanizado da equipe da Carmela Dutra é fundamental na assistência dos prematuros e de suas mães. “Isso começa desde o pré-natal, na Unidade de Gestação de Alto Risco. Muitas delas internam na nossa unidade com risco de nascimento prematuro e desde esse momento, as acolhemos”, explica a médica neonatologista Luciana Pizzolo Weinhold, chefe da Unidade Neonatal.
No parto, o prematuro é sempre atendido pelo neonatologista, acompanhado de um pediatra e uma enfermeira. Após o nascimento, os bebês são levados para a Unidade Neonatal onde, dependendo de peso e idade gestacional, irão para uma incubadora ou para um berço aquecido. Os prematuros extremos, entre 24 e 28 semanas, são os que demandam maior preocupação, aliado a um maior risco para os abaixo de 1 kg.
“As primeiras 72 horas são as mais críticas e exigem dedicação extrema da equipe. Passado esse tempo, é feito o primeiro contato do bebê com a mãe, o que chamamos de posição canguru, que é o bebê acolhido pele a pele com sua mãe. É importante frisar que pai e mãe não são visitas, o acesso deles é ilimitado e podem estar presentes 24 horas com seus filhos na UTI”, reforça Luciana.
Para auxiliar em todo esse processo, a maternidade tem um Banco de Leite com 150 litros de leite humano ordenhado e pasteurizado para ser utilizado pelos bebês da Unidade Neonatal. Também possui o Recanto da Mamãe, um espaço de acolhimento para as mães dos bebês internados na Unidade Neonatal, com área externa, dormitório, banheiro, sala e cozinha.
Atendimento multiprofissional
A assistência integral ao recém-nascido prematuro diminui as complicações de saúde e aumenta as chances de sobrevida. Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, técnicos, psicólogos e serviço social são os profissionais que integram a equipe multiprofissional da Unidade Neonatal da Maternidade Carmela Dutra.
O trabalho da enfermagem é essencial na rotina dos prematuros. São eles que prestam assistência 24 horas por dia com manuseio, verificação ou troca de equipamentos, auxílio na troca de fraldas. “Nosso cuidado é especializado e sempre de forma humanizada. A Dandara nasceu muito pequenininha e precisou de cuidados complexos. Assim que foi possível, colocamos a mãe pele a pele com a bebê. Esse contato é diferenciado e ajudou muito no desenvolvimento dela, é o amor da mãe”, explica Rosiane da Rosa, enfermeira assistencial da Unidade Neonatal.
A fisioterapia colabora para a redução da morbidade neonatal, na prevenção e no tratamento de complicações respiratórias e motoras decorrentes da prematuridade. “A maior parte dos atendimentos são de fisioterapia respiratória, pois os pacientes têm o pulmãozinho prematuro e nosso objetivo é deixá-los em ar ambiente. A Dandara faz fisioterapia duas vezes ao dia. Ela já esteve entubada e hoje usa um método de ventilação não invasivo”, explica Marisa Peruchi Moretto, coordenadora do Serviço de Fisioterapia da Unidade.
A equipe da fonoaudiologia começa a trabalhar com os bebês, normalmente, a partir das 32 semanas. “Precisamos que eles tenham em torno de 1,4 Kg, para que haja força muscular para sugar, pois nosso foco é na amamentação. Os bebês, como Dandara, estão com CPAP para ajudar na respiração. Após a retirada do aparelho, começamos a fazer estimulações, ensinando a sugar, como engolir e respirar, tudo em coordenação. Começamos somente com o dedo com luva sujinho de leite, para que ele sinta o gosto diferente. A partir do momento que o bebê começa a dar sinais, é ofertado maior volume de leite de forma gradual, até que ele possa ir no seio da mãe ou que consiga mamar pela boca”, explica Bruna Vieira Krug, coordenadora de Fonoaudiologia da Unidade Neonatal.
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Gabriela Ressel
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