No extremo oeste do Brasil, prospera no campo uma nova cultura que já está colhendo bons frutos no Acre. Cada vez mais, a produção sustentável de café avança no Vale do Juruá. Clima propício, terras férteis, gente com vontade de trabalhar e o apoio do governo do Estado são fatores importantes nesse processo de desenvolvimento da zona rural.
O café é a segunda bebida mais consumida do planeta, fica atrás somente da água. Cada brasileiro bebe, em média, 33 litros por ano. O Brasil lidera a produção mundial do grão. Em 2022, o país foi responsável por 33% da safra global. As variedades arábica e conilon são as mais plantadas pelos agricultores.
Embora figure entre os maiores produtores de café da Região Norte, o Acre não é autossuficiente. Mas essa realidade começa a mudar. Nos últimos anos, as colheitas estão aumentado e mais áreas dão espaço às lavouras. A adaptação ao solo, a lucratividade e a alta demanda pelo consumo impulsionam a expansão da cafeicultura no Acre.
Edno Guedes é pioneiro na plantação de café em Mâncio Lima. O início de tudo, há seis anos, foi marcado por muitas dificuldades. Mas o que o produtor interpretou como um sinal divino indicava um futuro muito promissor. “Eu sonhei várias vezes com plantio de café, acordava para procurar e não achava nada. Sempre acreditei que era Deus iluminando minha mente para tocar minha vida com mais facilidade”, afirma.
Dim, como é conhecido, resolveu transformar o sonho em realidade. Mesmo com poucos recursos financeiros, o produtor fez a aquisição de 1,5 mil mudas de café e plantou no Sítio São Pedro. A primeira colheita rendeu R$ 12 mil. A segunda ultrapassou os R$ 30 mil e a terceira chegou a R$ 60 mil. Atualmente, o cafeicultor possui 16 mil pés em uma área de cinco hectares.
Com os rendimentos, conquistas que o agricultor considerava distantes de alcançar se tornaram possíveis. “Eu tinha muita vontade de possuir uma caminhonete, mas a nossa vida era muita sofrida e o dinheiro era pouco. Graças a Deus, eu consegui comprar uma e realizei mais esse sonho. Também consegui melhorar a minha casinha e assim a gente vai levando a vida”, relata.
Atualmente, Edno possui 16 mil pés de café plantados em uma área de cinco hectares. Aos 66 anos de idade, o agricultor não esconde a vontade de seguir trabalhando e alcançar novos objetivos. “Eu tenho muito orgulho de ter sido uns dos primeiros a plantar café aqui em Mâncio Lima. Ainda tenho muita fé que vou chegar aos 40 mil pés nos próximos anos”, argumentou.
Foi de um início bem tímido que surgiu uma das marcas de café genuinamente acreanas. A partir da plantação na propriedade da família, na zona rural de Mâncio Lima, Suzameire Lima, a Suza, moía e torrava os grãos, à lenha, e oferecia para alguns familiares. Devido à qualidade e sabor diferenciado, a propaganda boca a boca se espalhou pela pequena cidade e mais pessoas se interessaram em conhecer o produto artesanal.
“Eu levava os saquinhos de café até a casa das minhas irmãs, que são professoras, para elas venderem na vizinhança e no trabalho. Chegou uma hora que eu, sozinha, já não estava mais dando conta. O meu esposo começou a me ajudar e, depois, o meu filho, também. Daí em diante, não paramos mais”, lembra a agricultora.
Com o sucesso nas vendas e a demanda crescente, o marido de Suza, Romoaldo Silva, e o filho, Bruno Oliveira, decidiram investir no negócio. No fim de 2022, surgia o Café Vô Raimundo, com o slogan “O café mais ocidental do Brasil”, por estar localizado na região mais a oeste do país. O nome homenageia o patriarca da família, já falecido, que chegou ao Acre vindo do Piauí, em 1956. Todo o processo de produção e industrialização é feito na chácara da família, procedimento inédito no estado. “Costumo dizer que aqui é do viveiro à xícara”, explica Romoaldo.
A lavoura de 4,3 mil pés de café chama atenção pelo cuidado e excelente produtividade. No espaço de 1,2 hectare, a colheita, em média, é de 120 sacos. A intenção é ampliar a plantação para 2,5 hectares. O crescimento da empresa tem refletido na geração de postos de trabalho. A depender do período do ano, até 15 pessoas são contratadas de forma temporária, como é o caso de José Francisco Bezerra.
“O salário que ganho aqui é muito importante para ajudar a sustentar minha família e eu também gosto de estar aqui trabalhando com café”, argumenta o autônomo de 26 anos de idade.
Por mês, a agroindústria faz a torragem de 700 quilos do grão. Toda a produção abastece o comércio de Mâncio Lima e Cruzeiro do Sul. “Ver o nosso produto na prateleira de um supermercado é a realização de um sonho. Temos um café de excelente qualidade, 100% puro, torra média, 80% da colheita são de grãos maduros e a secagem é feita em canteiros suspensos. Não tenho dúvidas que a cafeicultura é um caminho sem volta no Acre”, argumenta Romoaldo.
A atual gestão estadual aposta no setor agrícola como um importante impulsionador do desenvolvimento econômico e social do Acre. Nos últimos anos, grandes investimentos públicos foram realizados na zona rural e muito têm contribuído com o fortalecimento da cadeia produtiva regional.
“Temos investido na abertura e recuperação de ramais nos 22 municípios, adquirimos novas máquinas pesadas para ajudar os produtores rurais e procuramos dar todas as condições para que o agronegócio cresça cada vez mais. Os resultados já estão aparecendo e o nosso estado vem batendo safras recorde ano após ano”, pontua o governador Gladson Cameli.
Em relação ao café, o governo ajuda o homem do campo com mecanização e apoio técnico, trabalha para fomentar a produção e tenta viabilizar a distribuição gratuita de mudas para que o cultivo seja implementado em novas áreas.
“O café brasileiro é um produto de sucesso em nível mundial. Queremos que o Acre também seja inserido nesse contexto e, além disso, sabemos do nosso potencial. Recentemente, realizamos o primeiro concurso de qualidade do café e vamos continuar desenvolvendo outras ações que têm como objetivo alavancar a nossa economia”, enfatizou José Luís Tchê, secretário de Estado de Agricultura.
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