Centro de Convivência Antônio Diogo, em Redenção, foi fundado em 1928
O Centro de Convivência Antônio Diogo (CCAD), mais antigo equipamento vinculado à Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), completou 95 anos com programação ressaltando a atuação e a história da entidade. A comemoração ocorreu na quarta-feira (9), no distrito de Antônio Diogo, em Redenção. Na ocasião, a secretária da Saúde do Ceará, Tânia Mara Coelho, recebeu o título de Cidadã Redencionista, homenagem da Câmara dos Vereadores de Redenção, em agradecimento ao seu trabalho à frente da pasta. O infectologista e assessor especial da Superintendência Regional de Fortaleza (SRFOR) da Sesa, Lino Alexandre, representou a secretária no evento. “Terei o maior prazer de levar para ela esse título porque sei do compromisso e responsabilidade da secretária com a Saúde Pública do Ceará. É uma homenagem muito justa”, destaca.
Os convidados também visitaram o Memorial Leprosaria Canafístula, equipamento cultural criado com o objetivo de resgatar a memória de quase um século de tratamento de hanseníase no Ceará. O espaço possui sete salas, com exposições de documentos históricos, registros de jornais e objetos que foram guardados ao longo do tempo. As salas também abrigam produções como fotografias, obras de arte e histórias daqueles que passaram por ali.
O infectologista e assessor especial da Superintendência Regional de Fortaleza (SRFOR) da Sesa, Lino Alexandre, representou a secretária da Saúde do Ceará, Tânia Coelho, no evento
Segundo o diretor-geral do CCAD, Assis Guedes, a intenção do memorial é proporcionar aos pacientes residentes a oportunidade de mostrar o que eles queriam que a sociedade soubesse sobre a vida deles, por meio de produções artísticas, culturais e outras formas de expressão. Outro objetivo é sensibilizar os profissionais da área da Saúde para a hanseníase, ainda na graduação. “Esse espaço também está à disposição para visitação para formação acadêmica, como uma maneira de conscientizar os profissionais sobre a importância do diagnóstico precoce da doença e, dessa forma, trazer um olhar mais aguçado para a hanseníase. Essas visitas podem ser agendadas através do site da Escola de Saúde Pública do Ceará, no link dasPráticas de Regulação”, disse.
De acordo com Assis Guedes, 140 pessoas ainda residem no Centro de Convivência, todos curados da hanseníase. “Temos apenas 17 pessoas do tempo em que a internação era compulsória e a maioria é composta por familiares que moram nas casas. A internação foi compulsória até 1986”, explica.
Segundo o diretor-geral do CCAD, Assis Guedes, a intenção do memorial é proporcionar aos pacientes residentes uma forma de mostrar sua história e modo de vida
Segundo o infectologista e assessor especial da SRFOR da Sesa, os pacientes ainda são estigmatizados por causa da doença. “O estigma é algo que a sociedade precisa sempre rebater, assim como o medo e preconceito da população. Com um diagnóstico precoce, é possível não ter sequelas, permanecer com o convívio familiar e preservar o trabalho”, destaca.
História de força
Francisca Varela, hoje com 82 anos, começou a apresentar sintomas da hanseníase no início da adolescência, aos 13. Na época, morava em Várzea Alegre, cidade do Cariri cearense. Alguns sintomas, como o crescimento das orelhas, nódulos pelo corpo e a mudança na cor da pele, começaram a chamar a atenção dos vizinhos e ela se isolou em casa, para evitar os comentários. Toda a juventude passou reclusa, não teve oportunidade de estudar, nem de ter os divertimentos das moças da idade dela, como conversar com os amigos e participar de comemorações.
Francisca Varela, hoje com 82 anos, começou a apresentar sintomas da hanseníase no início da adolescência, aos 13 e chegou ao CCAD aos 27 anos
Aos 27 anos, a doença foi confirmada e ela foi internada no Centro de Convivência Antônio Diogo, levada pelo irmão. “A viagem foi de trem, era chamado o Expresso de Canafístula. Quando eu cheguei, chorei muito. Me senti sozinha e assustada. Mas, aos poucos, fui me acostumando e criei laços profundos com as pessoas daqui”.
Com o tempo, Francisca Varela aprendeu noções de enfermaria e passou a ajudar no hospital. Logo, surgiu o amor pelo enfermeiro-chefe, com quem veio a se casar. “Não pudemos ter filhos e, infelizmente, ele faleceu alguns anos depois. Mas adotei três meninas que chegaram aqui para se tratar. São as minhas filhas do coração”, disse.
Mesmo com o afastamento da família de origem, ela conseguiu retomar o contato e hoje sempre conversa com a irmã e os sobrinhos que moram em São Paulo. “Tenho duas famílias: a que formei aqui e a minha de sangue. Deus é meu guia e a minha fortaleza. Se eu vim para cá, era porque tinha um propósito: o de ajudar mais pessoas”, diz.
Visita ao Memorial Leprosaria Canafístula (Centro de Convivência Antônio Diogo – CCAD)
Agendamentos: (85)3332-2673 / 3332-9483 ou pelo e-mail hospitalantoniodiogo@gmail.com
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