Profissionais da UTI do HSJ recebem visita técnica do projeto “Saúde em Nossas Mãos”, do Proadi-SUS
No início de abril, o pai de Verônica Souza — Beni, de 87 anos — teve complicações em decorrência da covid-19 e precisou ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São José (HSJ), equipamento da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa). Enfermeira da UTI desde a sua fundação, em 2003, Verônica conta que a permanência de seu pai na UTI durante os sete dias em que ele esteve internado foi bastante acolhedora.
“Não é porque eu trabalho aqui, não, mas eu vejo que nosso tratamento é muito por igual. A gente se preocupa não só com o paciente, mas com o cuidador, assim como ocorre nas enfermarias. Quando tem um cuidador, a gente tem esse olhar de também se preocupar com aquele acompanhante”, avalia.
De 2020 a 2022, 355 pessoas em estado crítico foram atendidas na unidade, que completa 20 anos neste 28 de abril. O espaço possui oito leitos, dos quais três dispõem de isolamento respiratório — medida necessária para atender uma parcela dos pacientes com tuberculose, varicela, influenza e covid-19, por exemplo.
Equipe da UTI do São José no ano de 2015. Cerca de 80 profissionais trabalham hoje na unidade
Segundo Kelma Maia, médica intensivista e diarista da UTI, antes da instalação do espaço, os pacientes graves do HSJ tinham de ser encaminhados para outros hospitais. Com a criação da unidade, o HSJ passou a oferecer um atendimento de qualidade a quem estava com quadro crítico. “Os próprios pacientes com HIV/aids se sentem mais acolhidos e confortáveis de serem atendidos aqui”, ressalta.
A UTI do HSJ integra o projeto Saúde em Nossas Mãos, do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS). Ao todo, 204 hospitais do Brasil fazem parte da iniciativa, cujo objetivo é reduzir em 30% as infecções relacionadas à assistência à saúde (Iras) em Unidades de Terapia Intensiva do SUS, de 2021 a 2023.
Luciana Fragoso ao lado dos bundles de prevenção, que sistematizam os cuidados necessários para evitar as Iras
No próximo mês de outubro, o projeto completa dois anos. Líder do Saúde em Nossas Mãos no HSJ e coordenadora de Enfermagem da UTI, Luciana Fragoso destaca os êxitos da proposta: em abril, a UTI completou nove meses sem infecção do trato urinário e quatro meses sem infecção da corrente sanguínea. A meta, diz Fragoso, é não apenas alcançar indicadores positivos, mas mantê-los ao longo do tempo.
“Estamos sempre olhando para onde precisamos ter a mudança de uma prática. E essa alteração não pode ser momentânea, tem de ser perene. Quando começamos a ver que o nosso indicador está piorando, despertamos para o que está acontecendo na prática e vamos até a ponta buscar isso”, explica.
No início da pandemia da covid-19, a equipe da UTI foi capacitada para receber os pacientes. O espaço foi isolado: a área de repouso médico e a copa foram transferidas para a área externa da unidade. “Muitos profissionais ficaram doentes, na época. Aqueles que não adoeceram foram sobrecarregados, pois tinham de cobrir uma escala que estava vazia. Além disso, ficavam de 4h a 6h direto com os EPIs [equipamentos de proteção individual]. Foi bem desgastante”, lembra Kelma Maia.
A enfermeira Luciana Fragoso acrescenta que, além da capacitação, houve disponibilização de materiais e insumos para o enfrentamento da pandemia. Outra preocupação foi transferir os profissionais com comorbidades para setores onde eles seriam menos expostos aos vírus.
“A gente treinou a equipe, demos as mãos e fomos juntos nesse desafio. Os temores foram se dissolvendo aos poucos, até a chegada da vacina e a gente se sentir mais protegido. Inclusive, tivemos uma funcionária que adoeceu e ficou aqui na UTI, mas, graças a Deus, aqui na UTI não perdemos nenhum funcionário”.