Após duas semanas de depoimentos na CPI da Covid no Senado, seis depoimentos apontam que apostas erradas do governo federal ajudam a explicar o drama, com mais de 430 mil mortos, que o país enfrenta no combate à pandemia do novo coronavírus.
Logo nas primeiras oitivas, na semana passada, os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich deixaram claro que a estratégia defendida pelo presidente Jair Bolsonaro era o estímulo ao medicamento cloroquina, na época sem comprovação de eficácia contra a covid, e hoje descartado como alternativa no tratamento por inúmeros estudos científicos no mundo.
A segunda semana de audiências foi ainda mais complicada ao governo. Na última terça-feira (11), o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, afirmou que outra aposta de Bolsonaro contra a covid, o spray nasal de Israel, não teve êxito.
Segundo Barra Torres, o medicamento, que motivou a viagem de uma comitiva brasileira a Israel em 6 março, chefiada pelo ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, sequer teve pedido para estudos no Brasil e tem possibilidade bastante remota de utilização durante a crise sanitária.
Barra Torres contou ainda que em uma reunião no Palácio do Planalto a médica Nise Yamaguchi (já convidada para prestar esclarecimentos à CPI) tentou mudar a bula da cloroquina para colocá-la como indicação para a covid-19. Torres, de imediato, descartou a ideia.
Na quarta-feira (12), o ex-secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, começou a detalhar a omissão mais danosa ao país na crise sanitária: a não aceitação das ofertas da Pfizer, laboratório farmacêutico que insistiu para o governo comprar suas vacinas em meados de 2020, mas ficou sem respostas.
Wajngarten contou que decidiu pessoalmente contactar a Pfizer em novembro de 2020 ao saber que uma carta da farmacêutica enviada a Bolsonaro, ao vice Hamilton Mourão, ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e a outras autoridades do país havia sido ignorada por quase dois meses.
Na quinta-feira (13), o hoje gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, que no ano passado era presidente do laboratório no Brasil, deu números à omissão.
Segundo ele, foram frustradas as conversas com o governo brasileiro, iniciadas em maio a pedido do laboratório. Em agosto, a Pfizer fez seis propostas, nos dias 14, 18 e 26, com previsão de início de chegadas de vacina já em dezembro. Nenhuma foi aceita.
Murillo explicou à CPI que a intenção de sua empresa era usar o Brasil como vitrine da vacinação na América Latina ainda em 2020.
Diante da falta de ação, as primeiras vacinas da Pfizer só foram chegar ao país no final de abril de 2021.
Na melhor das propostas, de 26 de agosto, a companhia se comprometia a entregar 70 milhões de doses de seu imunizante, 1,5 milhão em dezembro, 3 milhões no primeiro semestre de 2021 e 14 milhões no segundo semestre.
Em outras palavras, o Brasil poderia ter iniciado a campanha de imunização um mês antes de 17 de janeiro, quando aplicou a primeira vacina em São Paulo, e teria recebido, até junho deste ano, 18,5 milhões de doses de um dos imunizantes com maior percentual de eficácia no mundo no momento: 85% já na primeira aplicação.
O governo, no entanto, preferiu rejeitar as propostas alegando "cláusulas leoninas" exigidas pelo laboratório no contrato. Murillo explicou que 110 países do mundo aceitaram as mesmas regras para ter a vacina.
Vários países do mundo iniciaram antes do Brasil suas vacinações contra a covid graças aos lotes da Pfizer. Só na América, isso ocorre nos Estados Unidos, México, Costa Rica e Chile.
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