Iniciativa envolve alunos das duas especializações com ênfase nos programas da Pediatria
Além de um diagnóstico cardíaco, Nicollas Ravi Maciel Tomás, de apenas dois anos, nasceu com fibrose cística, doença rara e hereditária das glândulas exócrinas que afeta, primariamente, os sistemas gastrintestinal e respiratório. O problema de saúde foi descoberto por meio do teste do pezinho –a triagem neonatal para detecção precoce de patologias metabólicas, genéticas, endócrinas e hematológicas. Desde então, o pequeno precisa de um acompanhamento especializado.
Priscila Maciel, mãe da criança, relata que as internações para o tratamento da doença ocorrem com frequência. A mais recente, no último mês de janeiro, foi no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), onde Nicollas foi atendido por equipe multidisciplinar. São médicos, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais e enfermeiros que atuam para promover mais qualidade de vida para pacientes e familiares.
O menino chegou a passar dois meses na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas agora já está na enfermaria à espera da alta hospitalar. “Graças a Deus, toda a equipe ajuda muito no tratamento do meu filho”, afirma Priscila (foto ao lado).
Além de Nicollas, diversas crianças passam pela unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) em busca de assistência. Por isso, foi instituído no equipamento o projeto Prática Interdisciplinar em Pediatria, com foco na integração entre médico(a) e equipe multidisciplinar. A iniciativa envolve residentes das duas especializações com ênfase nos programas da Pediatria.
Os profissionais sediados no Hias já se conheciam por seus trabalhos no hospital, mas, muitas vezes, não sabiam que faziam parte da mesma residência. Então, durante 2023, os alunos da Escola de Saúde Pública Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP/CE) terão um encontro mensal marcado para um momento de integração entre as Residências Médica e Multiprofissional. A primeira reunião ocorreu na última terça-feira (21), no auditório da autarquia, com 20 residentes.
“Se no ambiente hospitalar as duas áreas caminham juntas, por que não fomentar essa sincronia desde a especialização?”, questiona a supervisora da Residência Médica em Pediatria da ESP/CE, Cinara Carneiro.
Segundo a médica, com a estratégia, a expectativa é de que o profissional, ao concluir sua formação, chegue ao mercado compreendendo a importância do trabalho coletivo no atendimento individualizado de cada criança, além da comunicação com toda a equipe.
“Sempre senti a necessidade, mas só agora conseguimos tirar o projeto do papel”, comemora Larissa Loiola, coordenadora da Residência Multiprofissional em Pediatria da ESP/CE.
Patrícia Simões está no terceiro ano da residência. Para ela, o projeto vai permitir um olhar ampliado sobre todas as frentes de atuação no ambiente hospitalar.
“A psicóloga vai me dizer a evolução daquele paciente que eu, normalmente, só vejo uma vez por mês; um fisioterapeuta pode me ajudar na assistência; a nutricionista vai me contar se aquela criança tem restrição alimentar para uma melhor orientação de cardápio”, exemplifica.
O assistente social Daniel Viana, também no terceiro ano de formação, complementa que, quando se fala em paciente pediátrico, deve-se pensar nele em todos os contextos: o lugar de onde vem e como é a sua família, por exemplo. “Quando ampliamos cada caso, entendemos que são necessárias várias intervenções e que apenas uma profissão não atenderia”, explica.
As reuniões do projeto, sempre em um turno, proporcionam troca entre profissionais de diversas áreas e debates acerca de textos teóricos com foco na interdisciplinaridade. A atividade conta como preenchimento de carga horária.