O período de Estudos de Recuperação da rede estadual de ensino começou nesta quarta-feira (8/2). A iniciativa, realizada em caráter excepcional pela Secretaria da Educação, é uma oportunidade a mais para que os alunos recuperem a defasagem no aprendizado, observada ao longo dos últimos anos em função da pandemia.
A secretária da Educação, Raquel Teixeira, esteve na Escola Estadual Cândido Godói, em Porto Alegre, para conferir o primeiro dia das aulas de reforço oferecidas aos alunos que não atingiram a média anual ou que tiveram frequência inferior a 75% no ano passado. Ela ressaltou que a iniciativa não é uma forma de aprovação automática. As aulas extras vão até 17 de fevereiro, quando os estudantes serão submetidos a uma avaliação, podendo ser aprovados caso atinjam o nível necessário.
“Não é aprovação automática. Em dezembro, eles já foram orientados pelos professores e receberam material para estudar em janeiro, durante as férias. Agora, até o dia 17, terão aulas presenciais de recuperação. É como um sistema de professor particular dentro da escola pública, já que as turmas são de poucos alunos. Na escola privada é isso que acontece. Quando o aluno está para reprovar, as famílias com condição socioeconômica mais alta pagam um professor particular. E na escola pública, que é onde está a maior parte dos alunos, não há essa possibilidade”, disse Raquel.
Na escola visitada pela secretária estudam 350 alunos. Destes, 22 participam dos estudos de recuperação. As turmas de aulas extras não somam mais de cinco alunos cada, o que possibilita que os professores dediquem maior atenção às dúvidas dos estudantes.
Nattaly Ribeiro, 17 anos, teve a sua primeira aula de reforço de português nesta quarta-feira. Para ela, a baixa frequência não se revelou um problema, mas sim a dificuldade com o conteúdo. “Português e literatura foram minhas maiores dificuldades no ano passado. Hoje foi muito bom, conseguimos recuperar muita coisa com a ajuda da professora e eu consegui ter mais foco. Estou fazendo as aulas porque quero passar para o terceiro ano e espero conseguir”, contou a estudante, que deseja se formar e cursar Odontologia.
Eduardo Flores, também de 17 anos, reprovou em função da baixa frequência. O jovem, que vive com a mãe e a avó, começou a trabalhar no início de 2022 para ajudar em casa, mas acabou prejudicando seu desempenho na escola. “Não queria depender tanto da minha mãe e queria ajudar. No começo eu conseguia levar, mas depois fiquei sobrecarregado e não tinha tempo para estudar. Não conseguia conciliar as duas coisas. Acabei perdendo o estágio e fiquei desmotivado”, contou.
Em outubro, Eduardo já estava com a frequência comprometida e acabou desistindo de cursar o terceiro ano em 2023. “Achei que já tinha perdido o ano, que não valia mais a pena tentar. Então minha mãe veio até a escola pedir transferência para outra, mais perto de casa, e ficou sabendo dessa chance de recuperação”, disse. A chance de concluir o Ensino Médio em 2023 renovou o ânimo de Eduardo e de toda a família. “Eu vou estudar e passar. Minha mãe e minha avó ficaram muito felizes com a oportunidade. Elas estão torcendo muito por mim. Agora vou conseguir. Essa chance veio e não vou decepcionar ninguém”, enfatizou.
No primeiro dia de aulas de reforço, Eduardo impressionou a professora de Inglês, Raquel Cândido, que lamentou a ausência do aluno no ano passado. “Já se pode ver que é um ótimo aluno, inteligente e muito educado. Que bom que ele veio e aproveitou a oportunidade. Espero vê-lo no ano que vem”, disse. A educadora comemorou a adesão dos alunos aos estudos de recuperação. “Todos vieram, inclusive os infrequentes. Eles vão evoluir e conseguiremos fazer um bom trabalho”, comentou.
O entusiasmo dos professores e dos alunos ficou evidente na largada do projeto, como percebeu a secretária Raquel. “Os professores estão aderindo e acreditando na capacidade dos alunos, que estão gratos e empolgados com a chance que receberam. Estamos felizes por inspirar esse clima e essa postura escolar. O Conselho Nacional de Educação atribuiu a cada sistema educacional das 27 unidades do Brasil a responsabilidade de definir que chances e oportunidades dariam aos alunos que não conseguiram alcançar os 75% de frequência. E eles estão aqui, agarrando essa oportunidade”, destacou.
A iniciativa vale apenas para esse ano, com o objetivo de mitigar a defasagem causada pela pandemia, que evidenciou as desigualdades sociais no sistema de ensino. O diretor da escola, Marcus Vinicius Borba Sobotyk, resumiu o impacto da medida: “Desde o início da pandemia vimos a queda acentuada da frequência na escola. Muitos abandonaram de vez, se desestimularam. Essa medida certamente permitirá que muitos alunos concluam os estudos que talvez deixassem para trás".
Texto: Thamíris Mondin/Secom
Edição: Vitor Necchi/Secom
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