O foco tem sido a unidade semi-piloto de pirólise do lodo de ETE para geração de produtos energéticos
O Ceará possui uma cobertura de esgoto de 44,80%, o que permite a coleta de resíduos produzidos por cerca de 2,69 milhões de pessoas. Pensar em formas sustentáveis de tratar esse esgoto é um dos objetivos da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). Em 2023, Uece e Cagece renovaram convênio firmado em 2020, com vistas à uma cooperação técnica mútua para execução de plano de trabalho, projetos e atividades no âmbito do desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias de aproveitamento energético do lodo proveniente de Estações de Tratamento de Efluentes (ETEs).
Esse lodo é um dos grandes problemas operacionais das companhias de saneamento em todo Brasil, pois, devido sua grande geração durante os processos de tratamento do efluente (resíduos gerados por pessoas e indústrias) demandam o condicionamento, transporte e disposição final apropriados. Todavia, as políticas ambientais fortalecidas pelos conceitos modernos de sustentabilidade e governança corporativas como o ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) vêm exigindo do setor que novas formas de manejo desses passivos ambientais sejam transformados em ativos econômicos.
Segundo a gerente de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Cagece, engenheira Cailiny Medeiros, “a busca de rotas tecnológicas para valoração de subprodutos de tratamento de esgoto tem sido objeto de pesquisas internas e parcerias, de forma a buscar sustentabilidade e competitividade da Companhia através de soluções inovadoras e viabilidade de avançar em novos modelos de negócios.
”No projeto desenvolvido em parceria com a Uece, o foco tem sido a unidade semi-piloto de pirólise (decomposição térmica) do lodo de ETE para geração de produtos energéticos. A partir desse processo termoquímico de pirólise, podem ser gerados três principais produtos: biocarvão, que tem potencial de melhorador de solo; bio-óleo de pirólise, que pode ser utilizado como biocombustível; e o gás de pirólise, combustível para sistemas de geração de energia calorífica/elétrica, ou na própria unidade piloto como fonte suplementar energética, tornando o processo o mais sustentável possível.
A Uece ratifica a importância dessa colaboração com a Cagece, uma das maiores companhias do setor de Água e Saneamento. A partir dessa parceria, diversos alunos, em nível de graduação (cursos de Química, Física e Biologia) e pós-graduação (Programas de Ciências Naturais e de Ciências Físicas Aplicadas) da Uece, têm sido formados/qualificados com foco em promover melhorias para o tratamento do esgoto, contribuindo para o desenvolvimento tecnológico sustentável da região.
Exemplo disso é o aluno de Física da Uece, Gustavo Elton, que hoje atua como estagiário da Cagece no projeto, fortalecendo ainda mais a relação universidade-empresa.
A parceria técnico-científica envolve uma equipe multidisciplinar, contando com o know-how do time da Cagece, através da Gerência de Pesquisa e Desenvolvimento e Inovação (Geped), sob gestão da engenheira Cailiny Medeiros, e da Uece, especificamente, o time do Laboratório de Conversão Energética e Emissões Atmosféricas (Laceema), coordenado pela professora Mona Lisa Moura. O Laboratório funciona no espaço multidisciplinar LAIS (Laboratórios Associação de Inovação e Sustentabilidade), no campus Itaperi da Uece.
Em 2021, foi possível ampliar a atuação da Uece e Cagece no cenário nacional com a submissão de projeto institucional ao Programa de Mestrado e Doutorado Acadêmico para Inovação (MAI/DAI) do CNPq, sendo contemplados em 2022 com bolsas de pesquisa em nível de iniciação científica (apoio técnico), mestrado e doutorado stricto sensu.
Essa parceria tem contribuído para a capacitação de recursos humanos qualificados em processos termoquímicos sustentáveis, com a expansão de oportunidades para o discente com foco no mercado de trabalho.
“No Brasil, parcerias entre universidades e empresas impulsionam a inovação no País. Um dos principais produtos, quiçá o mais importante para a sociedade, não seja simplesmente a resolução do problema, mas sim, de fato a formação de recursos humanos com a visão de mercado. Essa sinergia entre a universidade e setor público/privado, estimula novos projetos de inovação, novos convênios, novas parcerias tecnológicas e novos produtos”, finaliza a professora Mona Lisa.