Sociedade Políticas
Cigarro eletrônico e sedentarismo bloqueiam avanços em saúde
Tabaco, álcool, ultraprocessados e distúrbios do sono contribuem para o crescimento das doenças crônicas no país. Especialistas apontam soluções pa...
07/11/2022 16h15
Por: Redação Fonte: Agência Dino
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A pandemia de COVID-19 acirrou hábitos nocivos na população, como o consumo de bebidas alcoólicas. Dados do Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) revelam que houve aumento de 20,6% no consumo abusivo de álcool, que equivale a 5 ou mais doses em uma mesma ocasião. As pessoas que mais sofrem são as mais vulneráveis socioeconomicamente, aquelas de menor escolaridade, além de negros, pardos, desempregados e moradores das regiões Norte e Nordeste. Assim como o excesso de álcool, o uso de tabaco pelos brasileiros também preocupa, mesmo que ele tenha apresentado estabilidade na pesquisa do Covitel, que entrevistou 9 mil pessoas das 5 regiões do Brasil. Segundo a Dra. Luciana Sardinha, Assessora Técnica de Epidemiologia e Saúde Pública da Vital Strategies, governos, instituições e profissionais da saúde não podem entrar na zona de conforto e ignorar o problema, pois a indústria do cigarro tem investido alto em estratégias para promoção dos dispositivos eletrônicos usados para fumar. “No Brasil, 7,1% da população já está consumindo cigarro eletrônico, sendo que 4,2% experimentaram pelo menos uma vez. Entre os jovens de 18 a 24 anos, quase 20% já tiveram algum contato com o cigarro eletrônico. Apesar de todo o trabalho que o país fez no passado, precisamos atuar muito nessa área”, destacou Dra. Luciana.

De acordo com líderes que participaram do 11º Encontro do FórumDCNTs, promovido na capital paulista em 21 de outubro, para reverter esse cenário é necessário um conjunto de ações que envolvam parceria entre as instituições públicas, empresas privadas e terceiro setor, além da conscientização e adesão da sociedade civil. Este movimento, chamado de intersetorialidade, é destacado pelo Dr. Marco Akerman, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), como uma “necessidade política, econômica e de gestão” e deve ser trabalhada na prática, apesar de toda sua complexidade. “O importante é identificar problemas complexos sem solução conhecida para nos unirmos estrategicamente. Vimos, por exemplo, que só o setor saúde não foi capaz de resolver a pandemia. Ao mesmo tempo, sem esse setor também não seria possível resolvê-la”, disse o professor.

O papel da alimentação adequada e saudável como estratégia de prevenção e cuidado de todas as condições crônicas não transmissíveis (CCNTs) foi destacado pela Dra. Laís Amaral, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), e pela Sra. Marília Albiero, da ACT Promoção da Saúde. Segundo elas, faltam políticas públicas eficazes e campanhas de educação alimentar e nutricional para a população. “Precisamos avançar com medidas regulatórias que facilitem as escolhas saudáveis e dificultam as não saudáveis, como melhorar a rotulagem dos alimentos, regular de forma efetiva a publicidade e a tributação de alimentos ultraprocessados, e a venda deles em escolas”, declarou a Dra. Laís. De acordo com a Sra. Marília, “a população desconhece que a alimentação não saudável é fator de risco para todas as CCNTs e, como consequência desse desconhecimento e dos preços baixos de alimentos ultraprocessados, acabam sofrendo as consequências associadas a esse tipo de consumo alimentar”.

Por fim, o Coordenador Geral do FórumDCNTs, Dr. Mark Barone, também ressalta a importância de “fomentar parcerias entre diferentes instituições públicas, privada e do terceiro setor, para o enfrentamento verdadeiro e efetivo dos fatores de risco e das condições crônicas não transmissíveis, melhorando tanto a prevenção quanto o tratamento delas”, disse. Segundo Dr. Mark Barone, os desafios na área da saúde aumentaram com a pandemia de COVID-19 e, consequentemente, as chances de o Brasil atingir o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3.4 da Organização Mundial da Saúde (OMS) até 2030 reduziram muito. “Em 2018, o Brasil estava bem posicionado para o atingimento do ODS 3.4, reduzindo em 1/3 as mortes prematuras por CCNTs, mas o cenário mudou com a pandemia e estamos distantes da meta agora”, falou Dr. Mark.

Segundo dados da OMS, a porcentagem de pessoas que morrem anualmente por CCNTs no Brasil chega a 75%. Entre os fatores de risco para as mortes, muitas delas precoces – antes dos 70 anos de idade - estão o consumo abusivo de álcool, tabagismo, diabetes, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias e câncer. "Todos os fatores de risco são importantes, mas destaco dois: a prevalência da inatividade física e da obesidade. A meta nacional agora é frear o aumento dos casos de obesidade”, declarou o fundador do FórumDCNTs. De acordo com a OMS, 84% dos adolescentes de 11 a 17 anos não praticam atividades físicas, e 47% dos adultos acima de 18 anos estão sedentários. A OMS alerta ainda que 9% dos adolescentes de 10 a 19 anos e 22% dos adultos no Brasil têm obesidade. Dr. Mark destacou, também, que mais recentemente foram elaboradas e entregues pelo FórumDCNTs e seus parceiros propostas aos candidatos a presidente e governador, a fim de garantir o compromisso deles com agendas prioritárias da saúde desde o início de seus mandatos.

Fonte: FórumDCNTs