A Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa)tem trabalhado no desenvolvimento de projetos e novas parcerias que busquem fomentar a piscicultura em Minas Gerais. Com 17 bacias hidrográficas, o estado é considerado a caixa d’água do Brasil e apresenta condições climáticas favoráveis e grande potencial para a ampliação da atividade, considerada boa alternativa de emprego e renda, especialmente na agricultura familiar.
“Temos um grande potencial de crescimento, pois, além das condições favoráveis, a Seapa vem atuando na busca de soluções para os problemas enfrentados pela atividade, entre eles as exigências ambientais, a partir da atuação na Câmara Técnica Setorial da Aquicultura ligada ao Conselho Estadual de Política Agrícola (Cepa)”, afirma o assessor técnico especial da Seapa Frederico Ozanam de Souza.
O assessor também destaca o apoio das vinculadas nesse trabalho, com atuação do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA)na segurança sanitária; da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig); e da Emater-MG, que realiza assistência técnica e extensão rural.
Em ação
Um dos projetos em execução vem sendo desenvolvido em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. Técnicos da Emater-MG estiveram reunidos com produtores rurais da região, organizando encontros e a capacitação dos interessados no desenvolvimento da atividade.
Com isso, depois de dez anos, a piscicultura foi retomada na barragem do Calhauzinho.
De acordo com o extensionista agropecuário da Emater-MG no município, Paulo Edson Silva, a empresa ofereceu, em parceria com a Seapa e o suporte da prefeitura, um curso de produção de manejo de tilápias em tanque-rede.
“Fizemos. inicialmente. o cadastramento dos interessados e a identificação das localidades onde seriam instalados os tanques. Para essa retomada, a prefeitura fez a cessão dos equipamentos que estavam inutilizados após a paralisação do projeto anterior iniciado há uma década no município”, comenta.
Após a montagem de toda a estrutura para piscicultura, o grupo formado por 18 produtores rurais realizou a compra conjunta de ração, fez a aquisição e a soltura dos alevinos. A primeira produção rendeu cerca de seis toneladas de pescado. Hoje, o trabalho está consolidado e em seu terceiro ciclo de produção.
Geração de renda
A piscicultura tem grande importância para a região, uma vez que aumenta o portfólio de produtos e fonte de renda dos agricultores familiares ao diversificar as atividades agropecuárias no meio rural.
Uma das participantes do projeto desde sua recuperação em Araçuaí é a agricultora familiar Maria Ilma Ramalho Moreira. Ela conta que, em sua propriedade, as frutas e verduras são fornecidas para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
A criação de peixes foi a oportunidade de aumentar a renda da família e tem dado certo. “Nós moramos próximos à barragem e por isso a atividade não nos dá muito trabalho, gastamos com a compra da ração. Há três anos, eu tinha 500 tilápias; hoje, já são 1,5 mil”, comemora. Os peixes produzidos no município estão ganhando cada vez mais espaço no mercado, sendo comercializados na feira de Araçuaí aos sábados e na região. “Nós vendemos o filé de tilápia e tem tido uma ótima saída”, avalia Maria Ilma.
O sargento veterano da Polícia Militar de Minas GeraisErnani Martins Gomes, que hora na região há três anos, também decidiu investir na piscicultura. Após muito estudo e com apoio dos técnicos da Emater-MG, o grupo tem conseguido produzir pescados durante todo o ano. “A atividade é muito rentável e promissora, além de ser uma novidade para a região. Qualquer pessoa, após um treinamento, pode aprender e fazer”, comenta.
Os produtores planejam agora investir na armazenagem, processamento e escoamento da produção. “Costumamos fazer a despesca de 250 a 300 kg de tilápias por mês. O potencial é maior, mas ainda não temos um local adequado que abrigue mais do que isso. Nosso sonho é ser um polo de produção de tilápias no estado”, afirma Gomes.
Potencial
As ações têm trazido otimismo e despertado o interesse de implantação da piscicultura em outras regiões do estado como em Salinas, no Norte de Minas, e Vale do Jequitinhonha, nos municípios de Salto da Divisa, Itaobim, Almenara e região.
Na cidade de Lagoa da Prata, a implementação da atividade começou com a visita e mapeamento das possíveis áreas que serão utilizadas. A proposta, que é pioneira na região, já começa com um grande potencial, pois o município conta com inúmeras lagoas construídas e naturais, que chegam a atingir de 50 a 120 hectares.
De acordo com o coordenador regional da Emater-MG em Divinópolis, Lamartine Wéliton Branquinho, a cidade ainda possui uma Associação de Pescadores, que antigamente vivia da prática da pesca no rio São Francisco. “Uma das propostas é a parceria com a associação, pois abrangeríamos uma gama maior de produtores e o grupo não sairia da área de atuação e fonte de renda que estão acostumados”, observa.
Além de disponibilizar um alimento de alta qualidade nutricional, a implantação da piscicultura é uma alternativa viável e promissora, capaz de gerar emprego e desenvolvimento. “O peixe é um alimento muito saudável e nutritivo. Lagoa da Prata está próxima de grandes cidades e pode atingir grandes mercados consumidores, como o de Divinópolis. Posteriormente, é possível pensar na comercialização de produtos até para outros estados”, afirma o coordenador regional.
No estado
Atualmente, Minas ocupa a terceira posição da produção nacional de tilápia, espécie de peixe mais cultivada no mundo, com 42,1 mil toneladas anuais. Segundo projeção da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), em 20 anos, o Brasil será o maior produtor mundial de peixes de cultivo.
Minas Gerais também se destaca como polo produtor de peixes ornamentais. A região da Zona da Mata Mineira é a maior produtora do Brasil, com grande concentração de piscicultores nos municípios de Barão do Monte Alto, Eugenópolis, Miradouro, Muriaé, Patrocínio do Muriaé, Rosário da Limeira, São Francisco do Glória e Vieiras. Com a criação do Centro de Referência em Piscicultura Ornamental de Água Doce, que funciona desde em 2017 em Leopoldina, a Epamig passou a gerar informações, difundir tecnologias e buscar por linhagens, matrizes qualificadas e rações balanceadas que contribuam para a consolidação da atividade.
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