Os resultados das avaliações externas, como o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), costumam ser comemorados por gestores e amplamente divulgados pelas redes de ensino como indicadores de avanço e qualidade. No entanto, é preciso lançar um olhar mais atento – e desconfiado – sobre o que de fato está sendo medido e, principalmente, como esses dados estão sendo construídos.
O Saeb é aplicado em anos pares, juntamente com a coleta das taxas de aprovação via Censo Escolar, permitindo o cálculo do IDEB no mesmo ano. Contudo, em algumas análises, nota-se uma possível defasagem na coerência entre a realidade das escolas e os números divulgados. Isso levanta uma suspeita importante: os alunos com maiores dificuldades estariam sendo reprovados ou até mesmo evadindo antes da avaliação, ou, ao contrário, sendo aprovados automaticamente para garantir resultados mais altos no índice?
Essa lógica da aprovação estratégica ou da retenção seletiva pode indicar um cenário preocupante: a educação estaria sendo tratada como uma competição por números e não como um compromisso com o aprendizado real dos estudantes. Não é raro encontrar escolas que preparam alunos exclusivamente para a prova, com simulados e treinamentos específicos, como se o ensino se resumisse à obtenção de uma boa nota no boletim do MEC.
Mais grave ainda é o impacto desse processo sobre os estudantes: quem está fora da estatística acaba invisibilizado, e quem está dentro é pressionado a representar resultados que muitas vezes não refletem sua verdadeira trajetória escolar.
E quando comparamos os resultados entre municípios vizinhos, a competição se acirra. Vamos observar o desempenho médio (dados públicos do IDEB e do Saeb) de algumas cidades mineiras, com base nos últimos ciclos disponíveis:
1. Nova Lima – 6,5
2. Ouro Branco – 6,5
3. Itabirito – 6,4
4. Congonhas – 5,9
5. Ouro Preto – 5,8
6. Mariana – 5,8
1. Itabirito – 5,6
2. Ouro Branco – 4,9
3. Ouro Preto – 4,6
4. Congonhas – 4,5
5. Nova Lima – 4,2
6. Mariana – 4,0
Para mais informações detalhadas sobre os resultados do IDEB por município, você pode consultar o portal QEdu: Minas Gerais: Ideb por municipio | QEdu.
Embora esses números forneçam uma visão geral do desempenho educacional na região, é importante interpretá-los com cautela. O IDEB é calculado com base na combinação da taxa de aprovação dos alunos e no desempenho em avaliações padronizadas. Isso pode levar a práticas questionáveis, como a aprovação automática de estudantes para melhorar os índices, sem necessariamente refletir uma melhoria real na aprendizagem.
Além disso, a competição entre municípios por melhores posições no ranqueamento pode incentivar estratégias que priorizam resultados numéricos em detrimento de uma educação de qualidade e inclusiva. É fundamental que os gestores educacionais utilizem esses dados como ferramenta para identificar áreas que necessitam de atenção e investimento, promovendo políticas que realmente impactem positivamente o aprendizado dos alunos.
Resumindo:
Este ranqueamento, no entanto, não deve ser encarado como um pódio, mas sim como um reflexo das tensões e desigualdades do sistema educacional. Antes de exaltar ou condenar, é necessário perguntar: os dados refletem mesmo a aprendizagem dos alunos ou o sucesso de estratégias para “driblar” o sistema?
Em tempos de meritocracia mascarada por índices, talvez o mais urgente seja recolocar o estudante no centro da política educacional – não como número, mas como sujeito de direito.
Christiane G. Bossanelli do Vale é pedagoga, psicopedagoga e mestre em Educação com mais de 25 anos de experiência em gestão escolar, coordenação pedagógica e docência. Apaixonada por educação e inovação, atua com foco na formação humana, uso de tecnologias educacionais e liderança democrática. https://www.instagram.com/saladeaulapdc/