Todos os dias o Hospital João XXIII, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) , recebe novas vítimas de acidentes no trânsito que, na maioria das vezes, poderiam ser evitados se as leis fossem respeitadas.
Somente no ano passado, a unidade registrou um total de 8.631 atendimentos a vítimas de acidentes envolvendo pedestres, carros de passeio, caminhões, camionetes, ônibus e motos. Desse total, 5.707 são ocupantes de motocicletas.
Este ano, os números podem ser ainda piores. Isso porque de janeiro a março já foi registrado um aumento de mais de 30% nos atendimentos a motociclistas ou garupeiros, em relação ao mesmo período do ano passado.
De acordo com a gerente médica da Urgência e Emergência do Complexo Hospitalar de Urgência e Emergência da Fhemig (Hospitais João XXIII, Infantil João Paulo II e Maria Amélia Lins), Daniela Fóscolo, cerca de 70% dos sobreviventes a acidentes de moto – que tem alta taxa de mortalidade – têm algum tipo de lesão ortopédica (ossos e partes moles), geralmente nos membros inferiores.
“A complexidade varia de acordo com a velocidade em que ocorreu o acidente, podendo causar, em casos mais graves, traumatismos tóraco-abdominais, cranianos e lesões na coluna. Os pacientes que estavam em alta velocidade também costumam ser aqueles que demoram mais tempo para se recuperar e com mais chances de ficarem com algum tipo de sequela permanente”, alerta a médica.
Em em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o Hospital Cristiano Machado (também da Fhemig) atua como retaguarda do João XXIII para casos neurológicos e ortopédicos que necessitam de internações de longa permanência.
Direção sem experiência
Ana Júlia Alves Silva, 19 anos, foi internada no João XXIII depois de um acidente com a moto que havia acabado de comprar. Mesmo estando em baixa velocidade, ela sofreu uma lesão no joelho, que agora precisará ser operado para colocação de pinos, o que deverá alterar a sua rotina por meses.
"Fui dar uma volta na moto, próxima à minha casa, antes de iniciar as aulas de direção. Como ainda não tenho muito conhecimento, usei o freio sem apertar a embreagem, o que fez com que a moto desse um tranco e eu caísse no chão com ela em cima da minha perna”, conta.
Depois da experiência negativa, a jovem conta que aprendeu a lição e dá um conselho para outros que possam ter a mesma ideia.
“Aprendi a não ser tão corajosa. É importante que as pessoas não se arrisquem, moto é perigoso. É preciso ter muito cuidado, experiência e estar sempre com os equipamentos de proteção”, afirma.
Moto por aplicativo
Segundo Daniela Fóscolo, a maioria das pessoas que chegam ao João XXIII vítimas de acidentes com motocicletas são homens, com idade entre 19 e 39 anos.
“Percebemos que muitos deles estavam usando o veículo como meio de trabalho no momento do acidente”, afirma.
Mas uma mudança no perfil dos pacientes associada ao aumento considerável nos atendimentos a vítimas de acidentes no trânsito tem chamado a atenção dos profissionais que trabalham na urgência da unidade.
“O número de acidentes de moto vêm aumentando na última década, principalmente relacionada à execução de atividades comerciais. O que chama atenção é que esse aumento ficou ainda mais significativo a partir de 2020, quando também tivemos a mudança dos padrões de compras e o crescimento da utilização de aplicativos tanto para transportes de materiais quanto, agora mais recentemente, para transportes de pessoas”, diz a médica.
“Apesar de ainda não termos estatísticas específicas, percebemos um número maior de passageiros vítimas de acidentes com motocicletas, que podem estar relacionados à popularização do uso da moto por aplicativo”, completa.
Ela explica ainda que o padrão de lesões de passageiros de moto é diferente do piloto.
“O piloto está mais fixo, segurando no guidão e com uma percepção muito maior do trânsito ao seu redor. Já o passageiro não tem muito como se apoiar na moto e muitas vezes não tem noção da dinâmica de andar nesse tipo de veículo, além do aparato de segurança – principalmente dessas pessoas que fazem o uso transitório da moto – geralmente ser de menor qualidade”, alerta.
Campanha
A Campanha Maio Amarelo deste ano, com o tema “Paz no trânsito começa por você”, lembra que a principal forma de diminuir o número desses acidentes é cada um fazendo a sua parte.
Respeitar as leis de trânsito e não dirigir após o uso de bebidas alcoólicas ou outras drogas já são regras conhecidas, mas muitas vezes desrespeitadas por um grande número de pessoas que acabam se envolvendo em acidentes.
Além disso, o gerente médico adulto do Hospital João XXIII, Rodrigo Muzzi, lembra a importância do uso de equipamentos de segurança.
“Usar o cinto de segurança, sempre andar com as crianças na cadeirinha e, no caso dos ocupantes de moto, estar sempre com o equipamento de proteção adequado (capacete, jaqueta e calça de material resistente e tênis ou bota) são fundamentais para a segurança de motoristas e passageiros, além de evitar manobras arriscadas e andar em alta velocidade”, aconselha.
Unidade no interior
O Complexo Hospitalar de Barbacena, da Fhemig, também é referência para o atendimento ao trauma, com a única porta de Urgência e Emergência da microrregião de Barbacena.
O complexo possui, ainda, a Unidade de Cuidados Prolongados (UCP), com foco na recuperação física e funcional de pacientes com sequelas graves, que necessitam de reabilitação para retomada da autonomia parcial ou total.
A UCP possui 25 leitos e equipe multiprofissional, composta por médicos, enfermagem, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, psicólogo, terapeuta ocupacional e assistente social, prestando um atendimento completo a esses pacientes.