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Epamig desenvolve pesquisa para auxiliar no controle da infecção de ouvido em bovinos da raça Gir
Doença está presente na maioria dos rebanhos da raça no país, mas ainda não possui protocolos de tratamento estabelecidos
19/02/2024 21h09
Por: Redação Fonte: Secom Minas Gerais

A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) tem avançado em estudos sobre a otite parasitária que acomete bovinos da raça Gir em todo o país. A infecção de ouvido é um dos grandes desafios para o manejo dos animais, pois gera redução de desempenho zootécnico e pode evoluir para quadros com transtornos neurológicos, ocasionando a morte de animais contaminados.

Daniel Sobreira / Epamig

Segundo pesquisadores da Empresa, a doença está presente em cerca de 90% dos rebanhos Gir no Brasil, mas, apesar da alta prevalência, o conhecimento sobre a enfermidade ainda é muito limitado. A otite é causada pelo parasito Rhabditis spp., um nematoide que coloniza a orelha de bovinos e se alimenta, possivelmente, do cerume e de microrganismos presentes no conduto auditivo.

A orelha afetada apresenta secreção purulenta de odor desagradável, o animal fica incomodado e estressado, batendo a cabeça, e acaba perdendo o apetite, o que faz com que seu desempenho caia em termos de ganho de peso, eficiência reprodutiva e produção de leite.

“A raça Gir apresenta orelhas longas e pendulosas, com um pavilhão auditivo comprido, o que cria um ambiente propício e favorece o desenvolvimento do parasito”, explica o pesquisador da Epamig, Daniel Sobreira Rodrigues. “É importante destacar que os principais sintomas são decorrentes de uma infecção bacteriana secundária, que acontece após a infestação da orelha do animal. O parasito se estabelece no conduto auditivo, se alimenta, e esse processo favorece a infecção, provocando o quadro clínico de otite”, completa.

Doença pode levar animais ao óbito

Por conta da proximidade anatômica entre o ouvido interno e o sistema nervoso central, os quadros clínicos de otite parasitária podem evoluir para quadros com sintomas neurológicos, como pálpebras e lábios caídos decorrentes de paralisia de nervos faciais, dificuldades de locomoção e convulsões. A ocorrência de abscessos cerebrais na região do cerebelo e tronco encefálico, ou seja, o acúmulo de pus na região interna da cabeça, leva os animais invariavelmente ao óbito.

“Quando ocorre rompimento da membrana timpânica, geralmente ocorre evolução da infecção para o sistema nervoso central e os animais desenvolvem um quadro considerado irreversível. Até hoje, não tive notícia de animal que tenha sobrevivido a essa condição”, comenta Daniel Sobreira.

Pesquisa pode auxiliar no tratamento

O pesquisador coordena o projeto “Rhabditis spp. em rebanho de animais da raça Gir: ocorrência, isolamento, identificação e cultivo in vitro”, que tem como objetivo a realização de um diagnóstico molecular da espécie do parasito causador da doença e a avaliação de sua prevalência no rebanho Gir da Epamig, localizado no Campo Experimental Getúlio Vargas, em Uberaba (MG).

“Ainda não há comprovação científica sobre o porquê e como o nematoide se estabelece na orelha dos animais, há apenas hipóteses. Além disso, grande parte das propostas de tratamento e controle avaliadas até o momento se mostraram pouco ou nada eficazes. Por isso, muito ainda precisa ser feito no campo da pesquisa”, acrescenta.

O trabalho de identificação e diagnóstico molecular do Rhabditis spp., bem como o seu cultivo in vitro, em laboratório, já estão sendo realizados, e a equipe de pesquisadores pretende iniciar experimentos com diferentes medicamentos para testar suas eficácias no controle do parasito. O projeto está previsto para ser concluído em 2025 e conta com parceria entre Epamig e o Programa de Pós-Graduação em Parasitologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado (Fapemig) .

A próxima etapa da pesquisa consiste em coletar material de todo o rebanho Gir do Campo Experimental Getúlio Vargas para um diagnóstico completo. “Vamos avaliar todos os animais para podermos identificar, por exemplo, qual é a faixa etária em que se inicia a contaminação, qual a prevalência por idade e quais animais apresentam otite ou não. Em seguida, vamos selecionar alguns bovinos para conduzirmos experimentos sobre tratamento e controle”, conclui Daniel Sobreira.