Atividades físicas como a canoagem são recursos importantes para prevenção e tratamento do câncer de mama; Fabíola Guedes competiu no Campeonato Panamericano Club Crew de Canoagem, realizado no Panamá
A cada novo dia, uma nova remada. A cada remada, a certeza de que o câncer de mama está em um passado distante. Quem acompanha a rotina da canoísta Fabíola Guedes, de 44 anos, que diariamente entra no mar do Mucuripe, às 5h20 da manhã, não imagina que a canoagem entrou na sua vida há pouco mais de dois anos, quando ingressou na Associação Lua Rosa, Organização Não Governamental (ONG) do Ceará que oferece apoio a mulheres que tiveram câncer de mama.
Diagnosticada com um tumor de mama do tipo triplo negativo, aos 28 anos, Fabíola representa um pequeno percentual de mulheres que tiveram o diagnóstico de câncer de mama antes dos 30 anos. “Foi extremamente difícil pra mim ter um diagnóstico tão jovem. Na época, passei por mastectomia, quimioterapia e fiz hormonioterapia por 6 anos. Depois disso, sempre pratiquei algum tipo de atividade física, mas foi apenas em março de 2021 que me apaixonei pela canoagem, quando ingressei como membro fundadora da “Lua Rosa”, tendo acesso a várias informações importantes”, explica. Fabíola é acompanhada atualmente pelo setor de mastologia do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), unidade de referência em oncologia da rede da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
Fabíola conheceu o “dragon boat” e melhorou sequelas do câncer de mama
Segundo Fabíola, a mastectomia da mama direita ocasionou alguns problemas de mobilidade no braço, sequela comum em mulheres que passaram pelo procedimento cirúrgico. Ao ser convidada para participar da Associação, a paciente tomou conhecimento de um estudo realizado pelo médico do Esporte Canadense, Donald C. McKenzie, que realizou, em 1996, uma pesquisa com um grupo de 24 voluntárias que tiveram câncer de mama e passaram por mastectomia.
Pelo estudo realizado por Mackenzie, os movimentos repetitivos, realizados em um “dragon boat” (tipo de canoagem de origem chinesa) e em sincronia de remada, além de melhorarem consideravelmente a mobilidade do braço, preveniram o linfedema (acúmulo de linfa nos tecidos que resulta em um inchaço) e promoveram um despertar para a importância da atividade física e do autocuidado.
Após dois anos e seis meses na canoagem, além da melhora na mobilidade do braço, Fabíola conquistou este ano o feito de fazer parte da primeira equipe brasileira de “dragon boat”, na categoria câncer de mama, a competir no Campeonato Panamericano Club Crew de Canoagem, realizado no Panamá. “Tenho muito orgulho de dizer que hoje sou uma atleta de “dragon boat”, não só pelos feitos esportivos, mas pela conquista de ter a atividade física como uma rotina em prol da minha saúde e da prevenção de possíveis complicações do câncer de mama”, argumenta a paciente.
Outro estudo realizado em 2022 por cientistas da Universidade de Charles, na República Tcheca, constataram que mulheres que fazem exercícios físicos três vezes por semana tem até 38% menos chance de manifestar tumores na mama. O estudo revela ainda que as pessoas que não fazem nenhum exercício físico e mantém uma vida sedentária têm o dobro da chance de desenvolver a neoplasia do que as que fazem atividade física regular. Segundo os pesquisadores tchecos, o exercício físico diminui fatores de risco importantes para o desenvolvimento do câncer, como a inflamação e inchaço no corpo, controla a produção de hormônios e mantém o peso corporal baixo.
A médica oncologista do HGF, Adriana Pires, afirma que atividade física é fundamental na prevenção dos tumores de mama
Para a médica oncologista do HGF, Adriana Pires, a atividade física na prevenção dos tumores de mama é algo já comprovado por vários estudos e recomendado pelas Sociedades Americana, Europeia e Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). “Recomendo para todas as pacientes com câncer de mama que acompanho no HGF a prática de pelo menos 150 minutos de atividade física por semana, ainda durante a realização da quimioterapia. O exercício, além de minimizar os efeitos adversos da medicação quimioterápica, reduz o risco de recidivas e possíveis metástases”, ressalta.
A oncologista argumenta ainda que qualquer tipo de atividade física tem ação preventiva contra o câncer de mama, mas destaca o efeito particular que a musculação tem na prevenção deste tipo de tumor, por prevenir ainda o envelhecimento celular precoce. “O envelhecimento precoce também é um dos fatores de risco para o câncer de mama, por ocasionar alterações biológicas”, explica.
O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, que forma um tumor com potencial de invadir outros órgãos.
Há vários tipos de câncer de mama. Alguns têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem lentamente. A maioria dos casos, quando tratados adequadamente e em tempo oportuno, apresentam altas chances de cura.
O câncer de mama também acomete homens, mas representa apenas 1% do total de casos da doença. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento para o câncer de mama em unidades hospitalares especializadas.